My own private Pogrom
Eremita
No dia 1 de Fevereiro, o Judeu apropriou-se da minha senha de entrada no Ouriquense e anunciou o fim sumário do blog. Fê-lo não só por "capricho", mas sobretudo para me obrigar a trabalhar na "minha obra", que entretanto leu e a que reconhece algum potencial, apesar do meu "fraco domínio do vocabulário" e de uma "indecisão no uso dos verbos 'estar' e 'ser' como auxiliares que indicia alguma fragilidade de espírito". Para ele, o "Ouriquense é uma fonte de distracção e não a tal máquina de parir ficção com que sonhas". Pareceu querer usar a sua condição de inventor como argumento de autoridade, até eu lhe recordar que ele jamais havia inventado coisa alguma, para depois dizer melhor ainda: que ele jamais tinha inventado coisa alguma. Nesse momento creio que ficámos ambos igualmente irritados, embora eu estivesse apenas indignado e ele apenas ofendido. E mais ainda ficou quando acrescentei que acabar com o Ouriquense de forma unilateral era formalmente mais grave do que a ocupação "estratégica" dos Montes Golan, em 1967 - provocação que veio acrescentada daquele gesto de desenhar as aspas no ar com os dedos quando disse "estratégica". Ele cresceu então para mim com o orgulho da força aérea israelita e eu lancei a mão a uma frigideira, pois estávamos na sua cozinha e ali não havia calhaus. O embate do seu soco no metal não produziu o tom melodioso que agora imagino, mas um som seco e grave, logo seguido de um grito de dor. Aproveitei a fraqueza dele, agarrado à mão e quase a chorar como um miúdo, para cortar relações, anunciar a sua expulsão do Ouriquense e roubar-lhe as chaves do carro. Esta última acção não foi anunciada, mas praticada pela calada e ao abrigo de um daqueles códigos de justiça primitivos que não deixam de ter aspectos positivos.
Estamos - mas majestaticamente, porque agora sou só eu - de volta para continuar a erguer isto, nas suas múltiplas frentes. Trago ainda notícias do Portugal selvagem. Entretanto, impressionou-me no meu regresso à civilização este magnífico texto sobre um filme que deve estar quase a chegar a Ourique - é um daqueles textos que nos deixam a pensar como seria bom se as pessoas que escrevem nos jornais soubessem sempre muito mais sobre o assunto que tratam do que aquilo que escrevem, quando a verdade é que geralmente sabem menos. No fundo, a grande marca de qualidade de um texto é a sensação (real ou não) de que o escritor apenas nos disse um pouco do que sabe e que há uma reserva a que não temos acesso, nem com uma ligação rápida à wikipedia. Em parte, gostamos muito de revistas estrangeiras porque a língua estrangeira mais facilmente produz este efeito - esta foi para agradar, mas ando a precisar de alguma ternura, pois a Costa Vicentina não é para meninos.
PS: como os operadores do Sapo, apesar de prestáveis, não despacham ao fim-de-semana, o Judeu ainda terá acesso ao Ouriquense durante umas horas. Espero que não as use para comprometer ainda mais a sua delicada situação.