Limites da interpretação
Eremita
O melhor parâmetro para se medir o prestígio de alguém não é o impacto daquilo que fez bem, mas o esforço que dedicamos a tentar tomar por válido o que fez mal. Costumava ilustrar esta regra com a reacção a um erro de gramática num texto de Vergílio Ferreira seleccionado para uma prova de português, mas como já não me recordo do erro (o caso deve estar documentado em alguma hemeroteca), convém renovar o exemplo. Os primeiros 5 capítulos do segundo livro de Guerra e Paz cumprem bem essa função. Porquê? Porque, sendo imensamente aborrecidos, se fica logo a pensar que foi de propósito. E qual teria sido o propósito? Deixar o leitor com imensa vontade que a guerra comece. Pelo menos foi assim que recebi o remate do capítulo 5:
"We're going into action, gentlemen!"
"Well, thank God! We've been sitting here too long!"
É porém impossível saber se foi esta a real intenção de Tolstói.