Elefante Azul
Eremita
Ainda é domingo e hoje fui com o Judeu a Beja. Discutimos no caminho de ida e almoçámos bem, mas como objectivo era lavar o Citroën, passo de imediato a esse assunto. O Judeu não muda de opinião desde a década de oitenta, com uma excepção: tem vindo a tornar-se um defensor do meio ambiente. Como a ideia de lavar o carro com detergente começou a perturbar os seus princípios recentemente adquiridos, ele decidiu passar a lavar o carro com jacto de alta pressão apenas, que é a solução oferecida pelos postos Elefante Azul. Fomos então a Beja porque, dos cinquenta postos existentes no país, aquele é o mais próximo de Ourique. Isto merece obviamente um protesto, mas a intervenção cívica colide com os estatutos deste blog, pelo que me limito ao registo passivo-agressivo e avanço já para a dimensão biográfica do relato.
Entre o verbo "lavar" e a acção que descreve há um fosso que me parece dos mais largos e profundos de toda a língua portuguesa.
Continua: onde se falará do conto popular Touro Azul, das rotações do tambor das máquinas de lavar a roupa das lavandarias públicas do 14ème, da misteriosa origem dos ganchos de cabelo descobertos durante a aspiração e de mosquitos mortos.