Tio Zé
Eremita
Tenho ouvido a viola campaniça do tio Zé quase todas as noites. Este homem é um prodígio. Assobiei-lhe a Herz und Mund und Tat und Leben, BWV 147, de Bach, e ele reproduziu-a à primeira, com uma harmonia de quem se relaciona intimamente com a técnica do baixo contínuo. Assobiei-lhe depois o Choro da saudade, do Barrios, e aquilo logo saiu com aquele característico balanço de baloiço do choro, a nota suspensa numa quase imponderabilidade, depois a cascata de muitas notas, como se o baloiço ganhasse velocidade. Não deve ter percebido esse ritmo no meu assobio, mas topou-o na melodia. Tio Zé. Fixem este nome. Não que venham a ouvir falar dele no futuro, pois é já homem para 80 anos.
A Herz und Mund und Tat und Leben dele, embora na campaniça, e apesar dele próprio, que nem aos 25 anos tinha a cara de all american boy do Christopher Parkening, não foi muito diferente desta: