Gonçalo M. Tavares
Eremita
Nunca li propriamente Gonçalo M. Tavares, apenas folheei os seus livros, terminei uns textos curtos de ficção e consumi algumas entrevistas suas. Ainda assim, parece-me desde há muitos anos o escritor mais ambicioso da sua geração, o que neste caso não deve ser confundido com a geração do escritor, nem com a geração do leitor, porque inclui ambas. Diria até mais: pela grandeza, tal ambição está ao nível da de um Pessoa ou de um Jorge de Sena. Quanto à sua natureza, creio ainda ser a mais genuína das ambições. Uma ambição de artista, mais do que uma ambição de sucesso. Tudo isto me parece admirável. É evidente que posso estar completamente enganado; a principal dúvida consiste em saber se o seu experimentalismo é lido (vê-lo é fácil) e se, sendo lido, é apreciado sem complexos, ou seja, até que ponto Gonçalo M. Tavares, mais do que a sua obra, goza da tal suspensão de descrença? Em todo o caso, conhecer a obra deste escritor holds great promise. Recorrendo ao futebolês, ele surgirá como bestial ou como besta, e é para estes momentos de elevado dramatismo que ainda nos vamos guardando. Mas suspeito estar mesmo diante de um homem bom e talvez seja de lembrar que há um pessimismo antropológico medricas, em que é maior a preocupação com a possbilidade de errar do que a vontade de acertar e ser justo.