Domingos e feriados
Eremita
Era uma vez uma mãe e sua filha que se alugavam nas tardes de domingo aos homens solitários. Cobravam 2000 €, porque a mãe era muito bonita e a filha encantadora. Trabalhavam sempre juntas e sabiam-se muito mais competitivas como par, preenchendo um nicho de mercado que as brasileiras e ucranianas, talvez por inibição cultural delas e desconfiança dos autóctones, demoravam a conquistar. Cumpriam assim uma fantasia masculina que, não sendo novidade, registava uma procura crescente e alguns relacionavam com a progressiva dissolução dos costumes. Eram muito profissionais e aceitavam que o cliente lhes desse outros nomes, se fosse esse o seu desejo. Geralmente faziam o serviço ao ar livre, em sítios muito frequentados, o que reforçava a segurança delas e intensificava o prazer deles. No final de uma tarde passada na praia, cada um na sua toalha e todos protegidos por um chapéu-de-sol da mãe, ela permitia que o cliente tirasse a areia dos pés da criança. E no final de um passeio de uma tarde inteira num qualquer jardim público, sempre de mãos dadas, a mãe não impedia o cliente de comprar um gelado à filha. Mas nunca deixava de verificar se os pés dela estavam bem limpos, nem de confirmar com o homem da geladaria que os seus produtos não tinham corantes artificiais, reflexos que faziam sempre a delícia do cliente, pois era nesses instantes que a fantasia lhe parecia mais verdadeira. Mãe e filha também despachavam aos dias feriados e o preço não variava. Mas depois de alguns dissabores, a mãe criara uma tabela de preços que desencorajava a fidelização. [escrito a 24 de Outubro de 2010 e de onde surgiu a ideia da série "Sétimo Dia", a escrever em 2011]