Exibicionismos
Eremita
É uma sorte o moço de recados não ler jornais de grande tiragem, caso contrário este João Pereira Coutinho (JPC) arriscava-se a levar com uma pedra da calçada na testa. O moço de recados não é má pessoa, mas tem um entendimento primário do mundo. Ele esteve na manifestação no Largo Camões, telecomandado a partir de Ourique via tecnologia Nokia, obviamente, e o relato que fez não está de acordo com a descrição de JCP. O cronista fala em "dezenas de humanistas", mas está errado. A menos que faça sentido descrever a altura de Pereira Coutinho em milímetros, é mais sensato falar em centenas (umas três centenas, de acordo com o moço de recados, que nos tempos de pastorícia ficou experimentado em headcounts). O cronista fala também em "humanistas", mas o moço de recados viu pessoas com imensos defeitos e a precisar de limpezas de pele. Enfim, o cronista descreve uma "pose exibicionista e masturbatória". Ora, quem acompanha o percurso de JPC há mais de uma década, sabe que o cronista esgotou as suas fórmulas, mas não deixa de apreciar a renovação constante da sua pose. A fotobiografia de JPC enquanto figura pública é um estudo que urge fazer para a génese da vaidade lusitana, que só perde em urgência para o A Revolta do Tradutor, uma análise métrica das traduções de Vasco Graça Moura, projecto que nos ocupa há largos anos.
Seria redutor, desculpabilizador e anacronicamente frenológico explicar a fotogenia como intelectual de JPC por acasos fisionómicos. Não. Pereira Coutinho é um cultor lúcido da pose de intelectual e, como bom conservador, não inova, repete. Nem por isso ele deixa de variar e até de surpreender, como nesta versão Bernard-Henry Lévy: