Anatolyi
Eremita
Tatiana regressou à caixa registadora e à vila. Não faço ideia se recuperou entretanto a forma física. A obsessão das mulheres que deram à luz em recuperar o corpo deve ser entendida segundo o princípio da soma nula: a grandeza interior que ganham com a maternidade tem de ser compensada com um aumento de frivolidade. Mas no meu caso, como observador, não saberia responder se Tatiana recuperou o corpo, pois só me lembro do rosto dela e o rosto está na mesma. E não vale a pena perder tempo com o "estado de graça" das grávidas e das jovens mães. Nunca topei tal coisa e levo muitas horas de observação.
Na caixa registadora, o registo é o mesmo. Tatiana continua a não me passar cartão e apenas me dá o troco em moedas, como - hum - diz a canção (uma que escrevi e ainda não chegou à FM). Perguntei-lhe pela criança, tive essa ousadia, e ela respondeu-me com um monossílabo e um segundo tímido, como se fechasse a porta com gentileza a quem colocou um pé dentro de sua casa.
O regresso de Tatiana marca também o regresso do Ouriquense aos temas de sempre, que estiveram algo esquecidos: como conquistar esta mulher? Qual o segredo do seu encanto? Como matar Igor sem me causar dor - e como não sentir dor por desejar uma morte apenas indolor para o assassino? A estes, junta-se um outro: que relação ter com Anatolyi, o bebé de Tatiana e Igor. Vi-o pela primeira vez ontem e ainda me pareceu ter a cabeça algo amolgada.