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OURIQ

Um diário trasladado

OURIQ

Um diário trasladado

30
Jun20

Uma conversa sobre Camus


Eremita

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Controlo-me para evitar que o Ouriq se transforme num magazine cultural, porque não é o objectivo e jamais conseguiria chegar ao nível de uma Maria Popova, mas esta conversa sobre Camus e o inacabado Le Premier Homme  — que ainda escuto ao escrever estas linhas — é extraordinária. Se houver francófonos por aí,  aproveitem, a menos que sejam sartrianos ou a figura do pai vos seja indiferente.  

 

 

 

29
Jun20

Um hino ao Brasil


Vasco M. Barreto

Faltará a esta canção a descrição hiperbólica de um povo e a exaltação máscula dos valores, mas Carinhoso é um dos verdadeiros hinos do Brasil. Aqui fica a canção, cantada pelo povo brasileiro e acompanhada pelo grande Yamandú Costa. Que sirva de consolo, depois do espectáculo desolador que foi aquela Ave Maria de Schubert engendrada por Bolsonaro em homenagem  às vítimas da COVID-19. Nenhum país merece um Bolsonaro e um país com uma música popular tão rica e músicos tão exímios merecia uma cerimónia menos medíocre.

 

 

24
Jun20

A Grande Muralha de Ourique


Dr. Fausto Gomes

 

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Companheiros, amigas, gente de Ourique e simpatizantes,

Aqui Fausto. Sempre com Ourique no pensamento, hoje venho propor uma acção inovadora que valorizará a nossa vila ou — no dizer pimba-retro-yuppie de Marcelo — a marca Ourique. Ouriquex? ? Poupem-nos. Haja respeito pelo berço da nação. Se é verdade que Portugal nasceu no Minho, só ganhou consciência de si em Ourique. Ourique é o momento em que Portugal se reconhece no espelho. Ninguém corromperá a nossa vila e o seu nome. É verdade que escrevo num blog de um homem caprichoso e juvenil que mudou isto para "Ouriq", mas um dia publicarei aqui a minha declaração de voto vencido. Retomando... A ideia: fechar Ourique temporariamente aos forasteiros. Por mim, fechava também Ourique para sempre às gentes de Castro Verde, mas deixo essa ideia para depois. Fechemos todas as entradas e que ninguém aqui entre pelos quintais. Ergamos um muro em taipa de pilão em redor da vila, a que gerações vindouras chamarão a Grande Muralha de Faus... de Ourique. Acautelemos o nosso futuro. Sejamos capazes deste sacrifício, pois é a capacidade de tolerar a gratificação adiada que nos distingue dos medíocres de Almodôvar. Alarmismo meu, tendo em conta os números da COVID-19 no Alentejo? Visão, meus caros, a visão que falta e sempre faltou na CMO*. Só fechando agora pode uma vila feia como Ourique competir com vilas dondocas como Marvão, Monsaraz e Castelo de Vide. Quando soube que não poderei fazer férias na Finlândia por estar em Portugal, a minha vontade de visitar Helsínquia passou de inexistente a incontrolável. Foi esta a epifania, amigos. É o mecanismo psicológico primário do fruto proibido que nós, ouriquenses, precisamos de explorar agora. Sejamos os primeiros. Ovar teve a sua cerca sanitária; Ourique terá a sua cinta turística. Hum? Imaginem o tempo como uma mulher: apertamos hoje para que Ourique possa reaparecer depois voluptuosa e irresistível como nunca. Seremos a primeira vila a usar a cinta turística. Monsaraz continuará circunscrita ao mundo do postal ilustrado e dos calhamaços do Círculo de Leitores sobre as mais belas vilas de Portugal. Ourique será case study nas grandes universidades de todo o mundo. A COVID-19 deu-nos a possibilidade da emancipação. A feiura das nossas ruas dá-nos a motivação. Honremos sempre o tempo, mas saibamos romper o espaço! Fechamos e anunciamos que fechamos, companheiros. Para depois, quando abrirmos, podermos encher os nossos restaurantes, valorizar o imobiliário e começarmos a trilhar o caminho que nos transformará na vila incontornável da Grande Ogiva do Sul. Disse. 

* Câmara municipal de Ourique.

 

23
Jun20

Sobre uma unanimidade nacional


Vasco M. Barreto

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A USJ justificou a dispensa com os comentários e pesquisas sobre a política local feitas por Sautedé, que poderiam colocar a universidade numa “situação delicada”. “Se há um docente com uma linha de investigação e intervenção pública [política], coloca-se uma situação delicada. Ou a reitoria pressiona e viola a sua liberdade, ou cada um segue o seu caminho”, explicou na altura Peter Stilwell, reitor da USJ.

Uma evidente violação da liberdade de expressão e da autonomia criativa do docente. Um dos mais importantes politólogos sobre aquela zona do mundo, o antigo professor da Universidade de Stanford, Ming K. Chan (entretanto falecido), classificou o caso como “uma nova inquisição”.

Nesse mesmo ano, o então vice-reitor da Universidade Católica visitou Macau e os jornalistas não se esqueceram do que tinha acontecido. José Tolentino Mendonça comentou o despedimento com questões de “percurso académico”: “Em questão estiveram o percurso académico e os graus que são necessários para ensinar a longo prazo numa universidade”, disse o agora cardeal. “Estamos solidários com a reitoria da USJ. A universidade tem de pedir aos seus docentes uma qualidade académica no sentido de concluírem todo o seu percurso académico, o seu doutoramento e graduações”, comentou, referindo-se ao facto de, em sete anos de docência na USJ, Sautedé não ter completado o seu doutoramento.

Em resposta, o investigador – que agora leciona numa universidade de Hong Kong – afirmou que o doutoramento não era requisito para leccionar na universidade em Macau e que “mais de metade dos meus antigos colegas teriam que ser demitidos, o que não acontece na USJ”, dando até o exemplo de um diplomata que serviu em Macau depois da transferência e que foi recentemente contratado pela instituição que também não tem doutoramento.

Poderia Tolentino Mendonça ter dito alguma coisa diferente do que disse?

Estes são momentos definidores na vida de qualquer um.

Tolentino Mendonça tinha o direito de dizer o que disse, mas quando leio que recentemente ganhou um prémio porque é preciso “ouvir as vozes desafiadoras dos principais intelectuais e artistas europeus, como Tolentino Mendonça”, que “devem orientar e inspirar os esforços coletivos para construir uma sociedade mais justa e mais inclusiva, para a Europa e para todo o planeta”, não posso deixar de dizer que Tolentino Mendonça fechou os olhos para Éric Sautedé. João Paulo Meneses, Público

Publicarei o direito de resposta, se Tolentino Mendonça se der ao trabalho de o escrever.

 

 

23
Jun20

Ouriquense


Eremita

A retoma

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O Ouriquense tenta mais uma vez retomar o projecto original, a saber, um diário em que a rotina do autor é trasladada para a vila de Ourique e um universo ficcional. Recuperarei o Ricardo Chibanga, Nuno Salvação Barreto, o moço de recados e o surfista de barragens, entre outros. Regressarão também as vozes com assinatura de Fausto Gomes e do Judeu. Durante uns tempos, para disciplinar a escrita e me proteger da actualidade e polémicas, não será possível comentar os posts do eremita, Fausto Gomes e Judeu, mas haverá caixa de comentários nos posts sobre a actualidade política e cultural assinados pelo Vasco M. Barreto. Temos um lado centrista e somos adeptos das soluções de compromisso.

O Ouriquense é uma octologia (estou num pico maníaco). Cumpriu-se, embora mal, o volume Lições da Planície (2008-2017). Inicío esta semana o volume Anos Felizes (2020-2024). 

 

 

 

23
Jun20

O negacionismo de Henrique Pereira dos Santos (7)


Eremita

Ninguém está a salvo do negacionismo

Um dos grandes equívocos sobre os cientistas diz respeito ao que os move. É por isso que não me canso de recomendar uma cena do filme Life Aquatic, de Wes Anderson. Não descreverei a cena, sugiro que a vejam já (dura pouco mais de um minuto) e retomem depois a leitura... Segundo uma visão lírica,  o cientista é guiado por uma sede de saber pura. Quase nunca é assim. A motivação real de um cientista, sobretudo quando já tem skin in the game, pode ser muito pouco nobre. Muitas vezes, o que o move é a sede de protagonismo e poder, o desejo de provar que são os outros que estão errados e não ele, a competição pela competição, até a vingança. Mas cientistas venais podem fazer ciência virtuosa, basta que não deixem que as suas pulsões corrompam as regras deste jogo. Também nesta querela com HPS seria hipócrita passar a ideia de que me move apenas o desejo de limpar o espaço público do lixo cognitivo que HPS andou a despejar desde Março. Como deve ser evidente, a verdadeira motivação é egoísta: pretendo sobretudo limpar a acusação de mentiroso que HPS me fez repetidas vezes. Mas recorrendo a uma lógica consequencialista,  a minha motivação é irrelevante; o que importa é saber se respeitei as regras do jogo e se consegui limpar o lixo de HPS sem acrescentar lixo meu. Essa avaliação não será feita por mim.

O negacionista é geralmente visto como uma figura marginal, frustrada e rancorosa, que se refugia num mundo alternativo. As suas teses podem ser desconcertantes pela idiotice (e.g., os flat earthers e homeopatas) ou repugnantes pela miséria moral (e.g., os negacionistas do Holocausto). HPS não tem nenhuma destas características. Não o conheço, mas daquilo que fui lendo no Corta-Fitas, imagino-o como um cidadão bem integrado, com uma família e uma carreira profissional reconhecida pelos seus pares, uma prática de cidadania e um inegável gosto pela polémica. Porém, a sua constante negação da evidência no caso da epidemiologia da COVID-19 tem todas as características de negacionismo. Não sendo um negacionista enquanto figura social, praticou negacionismo entre Março e Junho de 2020. Não chega a ser uma diferença subtil de difícil apreensão, sobretudo por existir na nossa língua o binómio ser/estar e fazermos parte de gerações educadas no contexto da discussão sobre o VIH para as vantagens de substituir a catalogação de grupos (os homossexuais e os toxicómanos) pelos comportamentos de risco (o sexo anal desprotegido e a partilha de seringas). HPS não será um negaciomista, ele apenas esteve e eventualmente ainda estará em estado de negação. Esta será uma conclusão batida e seria idiota e contraproducente forçar um paralelo deselegante, mas o caso de HPS fascina mesmo por nos sugerir que ninguém está a salvo deste mal, nem sequer um cidadão de mérito profissional reconhecido, mentalmente equilibrado e com um doutoramento atribuído por uma faculdade de ciências (do Porto). Em condições sociais excepcionais como as que vivemos, pode ser que baste uma combinação rara de soberba e capacidade cognitiva, motivação ideológica, incentivo e cumplicidade de fãs, e ainda algum infortúnio (como o terrível encontro com André Dias no percurso intelectual de HPS) para que o negacionismo grasse em quem menos se esperava.

HPS declarou que se sentia movido pela "coisa inglória e quixotesca de procurar contribuir para a racionalidade na gestão da epidemia em curso". Que tenha decidido fazê-lo com reiterada irracionalidade é um mistério que só ele terá interesse em compreender a fundo, apesar do meu indisfarçável fascínio antropológico por ele. Escreveu também: "que não nos falte coragem para reconhecer isto", num texto de título "Enganámo-nos provavelmente". Mas ninguém se enganou mais vezes do que HPS e a ninguém faltou tantas vezes a humildade de reconhecer as asneiras e a sensatez de parar um pouco para se pôr em causa, interrompendo uma frenética sucessão de textos com todas as características de uma fuga para a frente.

Não mais incomodarei HPS no Corta-Fitas, sobre este ou qualquer outro assunto, nem mesmo se ele começar uma campanha ainda mais grave, como negar o génio de Paco de Lucia. Assim se interrompe uma interacção desagradabilíssima para ambos. HPS acusou-me de “instabilidade emocional” e na altura fiquei ofendido, mas ao reler algumas das nossas trocas de impressões a minha exasperação é notória e este reparo de HPS terá sido uma das suas raras observações certeiras. As mentiras sem acusar qualquer necessidade de reposição da verdade, as manipulações, as omissões, o ultrapassar constante dos limites da interpretação das suas passagens, enfim, as imperfeitas aldrabices com que HPS tentou passar uma tese sem pés nem cabeça eram tão desgastantes como viciantes. Mas aprendi a lição. Por isso, ignorarei o desesperante toca e foge de guerrilha intelectual de HPS, ou seja, as suas respostas incompletas e evasivas. Para voltar a perder mais tempo com este assunto, HPS teria de me processar por difamação ou responder ponto por ponto às acusações que lhe fiz no seu blog e aqui reitero. Como não o fará, caberá a outro a missão de lhe dizer as vezes que forem necessárias que ainda vai a tempo de perceber uma evidência: não reconhecer as tolices que andou a escrever só o limita como interlocutor noutras discussões em que até parecia ter ideias válidas. Insisto nesta ideia: na área dele, eu considerava-o uma autoridade, um conceito cada vez mais útil para nos guiarmos com economia de tempo na cacofonia polifónica em que vivemos. Mas depois de testemunhar a forma vergonhosa como lidou com a epidemiologia, não mais poderei confiar naquilo que escreve sobre o que quer que seja. HPS perdeu um leitor. Quem se derrotou a si próprio não foi o Sars-Cov-2.

Optei por não continuar a maximizar a exposição e número de visitas. Despachei os três últimos textos de uma vez para arquivar o assunto. Porque a vida é curta. 

FIM

 

 

 

 

 

23
Jun20

O negacionismo de Henrique Pereira dos Santos (6)


Eremita

Anti-elitismo de conspiracionismo de circunstância

Com o passar do tempo e a acumulação de evidência quanto à gravidade da COVID-19 e das medidas não-farmacológicas, inclusive as extremas, a posição de HPS passou de periclitante a indefensável. Porém, no ambiente protegido de uma eco chamber de obscurantismo, o homem persistiu na tese. Recuou um pouco, passando a "admitir" "algum" efeito das medidas e fez um deselegante outsorcing de equívocos para o pobre André Dias, mas, talvez para evitar uma ferida narcísica que lhe seria insuportável, não foi capaz de dar a sopradela de misericórdia no imenso castelo de cartas que construiu. Então, a partir de meados de Abril, a sua defesa passou a ser insistir na complexidade e na dúvida. O texto "Não sabemos", como se adivinha, é o melhor exemplo dessa estratégia. Na arte de duvidar, já se conhecia a dúvida metódica, o agnosticismo, o método científico e o teste estatístico. Na Primavera de 2020 surge a grande contributo de HPS para a civilização: a invenção da dúvida narcísica que salva a face. I (bull)shit you not. 

Duvido que HPS tenha feito algum reality check entretanto. Segundo os números oficiais, vamos chegar aos 500 000 mortos de COVID-19 no princípio de Julho. O número real só será conhecido daqui a uns meses ou anos, mas cálculos com base no excesso de mortos por comparação a outros anos nos períodos mais críticos da pandemia sugerem que o número de mortos (directa ou indirectamente resultantes da COVID-19) que teremos de acrescentar neste primeiro semestre não deve ser inferior a 130 mil. Na verdade, como esta análise deixou de fora a China, Índia e a África, e não cobre o primeiro semestre inteiro, a correcção deverá ser bem superior a 130 mil. E assim, num semestre em que o mundo se tentou proteger com medidas não-farmacológicas sem precedentes na nossa memória viva, a COVID-19 terá matado mais de 650 mil pessoas, superando o limite superior da estimativa anual de mortos por gripe mais alta. O que sucederá durante o segundo semestre é ainda uma incógnita, mas não será arriscado prever que chegaremos ao milhão de mortos (o número real, não a contagem oficial provisória) antes do fim do ano, equiparando a COVID-19 em gravidade à epidemia de gripe de 1968. Basta lembrar que, durante o primeiro semestre, só no fim de Março o número de mortos por dia ultrapassou os 3 mil e que vamos entrar no segundo semestre muito provavelmente com mais de 3 mil mortos por dia. A evolução dos números no segundo semestre será em grande parte influenciada por aquilo que vier a acontecer no Brasil (90 mil mortos previstos logo para primeiro mês*), EUA (80 mil mortos previstos para Julho, Agosto e Setembro*), México e sobretudo na Índia (um país imenso e com uma curva preocupante, apesar da aparente baixa mortalidade), bem como o ímpeto com que o Sars-Cov-2 reaparecerá no hemisfério Norte em Outubro, se a sazonalidade se confirmar. Mas há demasiadas incógnitas, como a dimensão do impacto positivo do uso da dexametasona no tratamento dos casos mais graves (menos 10-15% de mortos?), a possibilidade de a imunidade desaparecer rapidamente nas pessoas infectadas, os números verdadeiros na Rússia, China e muitos países africanos, e ainda a (in)capacidade de implementar de novo medidas não-farmacológicas invasivas, tendo em conta o desgaste psicológico na população e a necessidade de não afundar ainda mais a economia.

Perante a quantidade de pequenas e grandes aldrabices que demonstrei, para concluir o exercício a que me propus não seria preciso acrescentar mais nada, mas HPS demonstra ainda duas características muito comuns entre os negacionistas. A primeira é o desprezo pelos especialistas, um anti-elitismo que no caso dele não se enraíza no populismo, parece ser apenas um tique que decorre da sua mania das grandezas e de um equívoco. HPS dá ares de ter apreço pela liberdade de expressão e pels recusa do argumento de autoridade, atribuindo à heterodoxia na ciência  um valor acrescentado que o leva a um relaxamento o grau de exigência com que avalia as vozes heteroxas (a aceitação cega do que André Dias escreveu e disse é um exemplo extremo ). O desprezo pelos epidemiologistas e a modelação manifestou-se recorrentemente nas expressões taxativas com que HPS parecia terraplenar uma disciplina sem ter conseguido sequer convencido o leitor de ter percebido os seus fundamentos e ferramentas mais elementares. Refiro-me a passagens como "Tudo isto é conhecido da epidemiologia" e  "os resultados (a confirmarem-se) são consistentes com o que seria de esperar a partir de cem anos de conhecimento em epidemiologia, totalmente arrasados em dezenas de modelos matemáticos". Há uma dimensão involuntariamente divertida neste tom assertivo e hiperbólico de HPS. Também no seu desprezo pelos modelos há uma tensão cómica entre a notória ignorância e a assertividade. HPS faz distinções incompreensíveis entre abordagens biológicas e matemáticas, não entende o que é um modelo, não distingue entre modelos interpretativos e preditivos, não percebe que a maior parte dos modelos são calibrados a partir de dados empíricos e não conhece a história da modelação em epidemiologia, indo ao ponto de confundir as suas epifanias diárias como descobertas que a disciplina devia passar a integrar. Ele pensa que os epidemiologistas que fazem modelos não estão a par das diferenças de comportamento entre as pessoas, quando há décadas que se fazem modelos que levam em conta a heterogeneidade nas populações e a heterogeneidade geográfica (e.g., um modelo desse tipo com mais de 30 anos e outro com apenas 15 anos mas com o colorido de ser da autoria do Neil Ferguson, o infame epidemiologista que, segundo a mitologia libertária e de anti-cientismo em que HPS marinou, mandou toda a gente para casa no Reino Unido). Salvo erro, HPS só se enamorou de dois modelos: o de Sunetra Gupta, que hoje se sabe estar completamente errado nas suas previsões, sobretudo as mais extremas, pois a 24 de Março sugeria que metade da população do Reino Unido poderia estar já infectada antes de 24 de Março, quando hoje se sabe que os seropositivos em Londres, quase dois meses depois, eram apenas 17%, e o de Gabriela Gomes, em que é sugerido que o limiar para a imunidade de grupo pode estar nos 10-15%, sem que haja qualquer evidência empírica que o suporte. Lamento não ter o talento para dar a HPS a Hitch slap final que ele merece e só me resta imaginar que um dia, em plena refeição com a família ou amigos num qualquer restaurante, HPS ouvirá um  "how dare you?" sonoro de algum epidemiologista alcoolizado, mas suspeito que as suas conclusões sejam demasiado absurdas e o Corta-Fitas não tenha a projecção necessária para que algum epidemiologista saiba quem é HPS e o pudesse levar a sério.

A segunda característica é a a inclinação para as teorias da conspiração, que no caso de HPS pode ser meramente táctica. O totalitarismo da China levou ao aparecimento de três teorias: 1) que a China teve um comportamento criminoso na gestão inicial da pandemia,  tanto internamente como no atraso a informar a OMS, o que hoje parece estar provado; 2) que o Sars-Cov-2 escapou de um laboratório chinês de biotecnologia, de momento uma puríssima teoria da conspiração que continua a animar muitos círculos, mas uma questão que — formalmente — podemos manter no ar; 3) que o número de mortos na China foi muito superior ao divulgado, uma tese cuja sensatez está inversamente correlacionada com a dimensão dos palpites. A posição de HPS sobre esta terceira teoria pode ter contornos de teoria da conspiração, mas não há uma certeza absoluta porque um bullshitter como ele discute com manha e a sua alusão à falta de fiabilidade dos dados da China pode ter sido apenas uma forma de escapar a uma pergunta incómoda. Com efeito, pedi-lhe inúmeras vezes que desenvolvesse a sua tese, mas uma resposta esclarecedora nunca veio. A palavra a HPS:

O que parece certo é que a partir da manobra de propaganda da ditadura chinesa - derrotámos gloriosamente o vírus com a nossa acção firme e decidida -, com a conivência do silêncio da OMS (que deveria ter dito que essa é uma hipótese, embora pouco provável, e que o conhecimento de cem anos de epidemiologia permite admitir que a curva epidemiológica tenha seguido o seu curso natural, tendo sido o vírus a derrotar-se a si próprio...

E ainda esta passagem, breve e bem recente, que foi tudo o que consegui dele:

Se confia na informação sobre a China a única coisa que tenho para lhe dar são os meus pêsames pela morte do seu cérebro.

Não se percebe mesmo se o pensamento de HPS sobre a China se alterou. De início, a sua tese era a da costumeira evolução natural do vírus que absorveu de André Dias. A epidemia iniciou-se em Wuhan em pleno festival da Primavera, uma altura de grande circulação da população na China. Sendo o vírus caracterizado por um R acima de 2 e uma mortalidade de 0,64% (0,50-0,78%) (há outras estimativas com uma dispersão bem superior), pensar que, num grande centro urbano, com uma  população sem qualquer imunidade inicial e em movimento para diferentes partes do país, o vírus  se derrota a si próprio em três meses após ter provocado menos de 5 mil mortos é uma tese incompatível com os tais "cem anos de conhecimento em epidemiologia" e esmagada pela evidência mais recente. Não há qualquer dúvida sobre o assunto. Saberá HPS qual é a percentagem de seropositivos em Wuhan? Está entre os 3,2 e os 3,8%, dependendo do grupo analisado. No resto da China, a percentagem é menor, como seria de esperar. A ideia de que 4% de seropositivos no epicentro de uma epidemia chegam para a parar e estancar a sua propagação para outras áreas da China é tão descabelada que a HPS só resta mesmo a tese de que toda a informação que vem da China faz parte de uma enorme maquinação, inclusive os estudos recentes sobre a seropositividade na população. Se HPS está preparado para assumir plenamente esta linha de argumentação, então passo-lhe o pincel e a paleta para ser ele a dar os últimos retoques no seu retrato de negacionista. Mas as seguintes perguntas são retóricas porque HPS deve ter amuado ao segundo parágrafo deste texto e nunca responderá. Quantos mortos estará a China a esconder? Em vez dos 4 638 oficiais, façamos um exercício. Terão morrido 10 vezes mais, ou seja, 46 380? Há quem defenda esta ideia com base em alguma informação interessante, talvez até credível. Se foi o caso, no ranking de mortos por milhão de habitantes a China saltaria para a posição 42ª, entre a Polónia e a Bielorrússia. E daí? É ainda uma posição que deixa a China na posição dos países que lidaram excepcionalmente bem com o vírus. Como se explicaria então que o vírus se tivesse derrotado a si próprio mais depressa numa China apanhada de surpresa do que nos EUA? HPS adoptará talvez aquela que foi a sua derradeira arma: a análise multivariada paralisante e geradora de dúvida. Há quem faça da complexidade um objecto de estudo, mas, como já frisei, HPS usa a complexidade para forjar uma moratória que adie conclusões para quando já ninguém se lembrar das parvoíces que andou a escrever durante mais de três meses e ele possa ter uma saída airosa. Dirá HPS que os talvez os chineses tenham uma genética que os protege, uma poluição atmosférica que lhes deu resistências ainda por estudar, uma série de zoonoses que ninguém topou e os equipou antes de 2020 com uma imunidade cruzada que os testes serológicos não detectam mas é capaz de neutralizar o Sars-Cov-2. Ou então subirá a parada da conspiração: talvez os chineses escondam ainda mais mortos. Terão sido 100 vezes mais, ou seja, 463 800? Aqui HPS começará a ponderar se lhe interessa seguir com este número, que inflaciona o número de mortos no mundo já para perto de um milhão no primeiro semestre de 2020 e complica ainda mais a comparação com a gripe (friso que estamos a pensar segundo a realidade paralela de HPS em que a comparação directa com os números da gripe é pertinente porque as medidas não-farmacológicas sem precedentes contam pouco). Suponhamos que HPS sacrifica de vez a comparação com a gripe para defender a sua tese central: 463 800 chineses mortos!  É um número que acaba com a tese de que a China pôs em prática medidas não-farmacológicas de uma eficácia excepcional. Mas será que esta suposição faz algum sentido? Seria a China capaz de esconder mais de 400 000 mil mortos? Teria a China andado a oferecer ajuda técnica e ventiladores em Março aos pobres dos italianos e espanhóis quando ainda morriam chineses de COVID-19 só para fingir que estava tudo controlado? Não estaríamos já em pleno delírio xenófobo? Seria preciso desmentir uma série de observadores da OMS, alinhar numa tese trumpista elevada ao quadrado de que a China corrompeu toda a estrutura da OMS e passar um atestado de menoridade à intelligence norte-americana, tão sedenta de anunciar podres chineses, por ter sido incapaz de recolher provas definitivas da tragédia chinesa. Mas ouçam o relato de um afável médico canadiano (observador da OMS) sobre a sua visita à China: parece-vos que foi corrompido pelos Chineses? Com o quê? Dinheiro? Promessas de um cargo apetecível na OMS? Concubinas sublimes superiormente treinadas nas artes da cama? O meu cérebro estará moribundo, mas não sei mesmo como HPS conseguirá explicar os dados da China sem ter de abandonar as suas teses e, em simultâneo, nos conseguir convencer de que o seu cérebro não está sob o efeito de substâncias alucinogénicas ou refém do seu imenso ego, como um adolescente franzino subjugado por um lutador de sumo.

* Estas estimativas parecem-me exageradas tendo em conta a progressão da COVID-19 nas últimas semanas nos EUA e Brasil, mas não sou epidemiologista e é verdade que os números oficiais do Brasil despertam as maiores suspeitas. 

 

 

 

 

22
Jun20

O negacionismo de Henrique Pereira dos Santos (5)


Eremita

A grande ilusão

Para cumprir a promessa de não ir além dos sete textos, outras aldrabices de HPS ficarão por detalhar, como as manipulações de citações de OMS, indo buscar textos pré-COVID-19, e a confusa e tacanha equiparação da crítica à razoabilidade das medidas de confinamento (que nunca questionei) a uma crítica à eficácia das medidas (o objecto exclusivo desta discussão). Espero que se perceba o problema de confundir estas duas críticas. Há décadas que discutimos a razoabilidade do bombardeamento de Dresden e do uso das bombas atómicas no Japão, não a eficácia dessas decisões para quebrar o ímpeto do adversário. Mas há um cúmulo de bullshit, má-fé bazófia que não pode ficar esquecido. Surge no texto "Isto não é matemática", um verdadeiro hino à ignorância. 

Daí a hipótese de que depois da epidemia entrar numa exponencial forte, teremos 12 a 15 dias (sim, pode ser um bocadinho fora deste intervalo, isto não é matemática) até começar a entrar no tal planalto e começar a descer.

Parece bruxaria, porque não tem uma grande complexidade matemática ou teórica. Quando perguntaram a André Dias que modelo estava a usar para dizer isto, limitou-se a responder: nenhum, olho para a curva, e leio-a a partir do que aprendi sobre epidemias.

Qual é a vantagem disto sobre os complexos modelos que tenho visto por aí?

(...)

E, sobretudo, revelou-se muito certeira nas previsões de evolução da epidemia e dos seus efeitos (os Estados Unidos e o Reino Unido apresentaram ontem, pela primeira vez, uma diminuição do número de mortos, o que deve ser lido com a cautela de quem sabe que um valor não é uma tendência). Por exemplo, muito no início, quando o Imperial College estimava 400 mil mortos em Itália, esta forma de pensar falava, grosseiramente, num máximo de dez mil, provavelmente será mais perto do dobro, mas muito mais perto da realidade que os 400 mil do Imperial College. HPS, Isto não é matemática, 6.04.2020

Não vale a pena insistir na circularidade que alicerçou o raciocínio de HPS durante meses. Nas passagens destacadas a amarelo há um lapso. Mas já se percebeu que HPS não assume os lapsos grosseiros que acumula, o que nem sequer chega a ser grave, é apenas triste. Grave é ver um respeitado arquitecto paisagista e figura da gestão do território, que também opina na imprensa e marca presença na televisão quando o país começa a arder, a enganar os leitores que não se dão ao trabalho de verificar as suas fontes. Grave sobretudo para HPS, entenda-se. Porque que conclusão devo eu tirar quanto ao rigor e competência de HPS nos assuntos que não domino, como a gestão dos territórios agrícolas (fogos, eucalipto, desertificação do interior, etc.), quando sobre uma área que domino mais ou menos (nunca trabalhei em epidemiologia, na verdade) descubro um grau de ignorância e manipulação inadmissível? Isto tem um lado cómico e poderia rematar a conversa usando a mesma boutade de alguém sobre Marcelo Rebelo de Sousa: concordo sempre com ele nos assuntos que não domino (cito de memória). Mas há também um lado trágico, porque o que aqui venho detalhando com uma insistência que muitos acharão "paranóica" ou desproporcionada é um exemplo extremo da erosão da confiança no espaço público. Na sua fuga insustentável, HPS vai ao ponto de redefinir a linguagem, como fez nas respostas ao texto de ontem. E quando é um autoproclamado liberal a refugiar-se num newspeak...  

Que a 6.04.2020, quando já havia mais de 15 mil mortos em Itália e ainda se morria às largas centenas por dia, alguém se lembrasse de defender uma "previsão" de 10 000 mortos para aquele país, é um verdadeiro mistério. Sabemos hoje que o número de mortos é já mais do triplo do valor lançado para o ar a golpe de vista (creio que por André Dias). Como se não bastasse, o valor real correspondente ao excesso de mortes na Itália por COVID-19 e outras causas devido à incapacidade de resposta dos serviços de saúde nos últimos meses poderá ficar por volta dos 50 mil. 10 mil vs. 50 mil. Antecipo a crítica: estou a inflacionar o número de mortos porque o valor inclui aqueles que não estavam infectados com o Sars-Cov-2 e morrreram por falta de assistência médica, o que terá sido um erro de gestão e não um efeito directo do vírus. Errado, estou apenas a dar a comer a André Dias e HPS o pão que andaram a amassar: no mundo paralelo de André Dias, (ouvir a partir de 26' 45'') não houve excesso de mortos, assistimos nas imagens da televisão a um "teatro" ou então a um colapso dos serviços provocado pelo medo (mas sem excesso de mortos). Analisar este material retrospectivamente põe o estômago às voltas pela incompetência, alucinação e assertividade sem qualquer fundamento. Não houve nada de novo aqui, pois já demonstrara como HPS subestimou a gravidade da COVID-19. A novidade é que para denegrir o Imperial College  e se valorizar, HPS provavelmente inventou uma previsão que nunca existiu (1),  distorceu as previsões do Imperial (2) e ocultou informação (3). Neste texto, HPS intensificou o bullshiting para níveis surpreendentes numa pessoa com a sua formação e responsabilidades. Vamos decompor.

(1) A invenção de uma previsão: quando HPS escreveu que a equipa do Imperial College previu 400 mil mortos para Itália, teria sido simpático revelar a  fonte. De que cartola tirou ele este coelhão dos 400 mil mortos na Itália? Procurei nos arquivos do Imperial sobre a COVID-19 e, até  6 Abril, só encontrei dois relatórios potencialmente relevantes, o 9 e o 13. No relatório 9 a Itália praticamente não é mencionada e as simulações são feitas para os EUA e o Reino Unido. No relatório 13 há números sobre a Itália. Considerando o número de mortos até 31 de Março, o modelo do Imperial calculou que, no cenário de confinamento que tinha sido implementado, esse número seria 14,000 [11,000 - 19,000]. O número oficial de mortos na Itália até 31 de Março foi 12 428, bem dentro do intervalo do modelo do Imperial — reconheça-se que o intervalo é amplo, mas foi o que se conseguiu tendo em conta a incerteza, pois no Imperial não há génios com o golpe de vista de um André Dias que viu gaussianas perfeitas em toda a parte. O relatório inclui ainda cenários para o número de mortos nessa data na ausência das medidas farmacológicas: 52,000 [27,000 - 98,000]. 52 mil mortos. Tendo em conta os números que hoje conhecemos (os prováveis 50 mil mortos até agora), será uma previsão assim tão absurda ter previsto 52 mil mortos até 31 de Março se HPS e André Dias dirigissem os destino da Itália, isto é, se os italianos tivessem continuado a viver "como habitualmente"? Mas insisto: onde foi HPs descobrir os  400 mil mortos na Itália? Não vasculhei toda a net e não posso ser taxativo, mas a hipótese mais plausível é que André Dias e/ou o sempre-enviesadamente-crédulo HPS usaram para a Itália a simulação feita para o Reino Unido, que aparece na tabela 4 do relatório 9  (410 000 mortos). Dir-me-ão: Eremita, não sejas picuinhas. Afinal, a Itália e o Reino Unido são países de dimensão parecida. Estaria disposto a aceitar esse eventual lapso inócuo se essa descrição fosse completa. 

(2 e 3) Distorção e ocultação: admitindo que a hipótese que lanço no parágrafo anterior está correcta, HPS não cometeu apenas mais um dos seus lapsos, que sofreram entretanto um upgrade para mentira reiterada sempre que alguém lê o que ele escreveu, pois o homem recusa retractar-se. O que ele fez foi enganar consciente e descaradamente toda a gente. Isto porque até HPS, que não deve ler as fontes primárias, tinha a obrigação de saber que os 410 000 mil eram para o cenário "do nothing" (veio nas notícias), pelo que de forma nenhuma pode ser usado como critério para avaliar a qualidade da simulação a partir de números de uma realidade em que muito foi feito. É verdade que HPS não acredita nas medidas não-farmacológicas, mas isso não lhe dá o direito de reinterpretar uma simulação de quem acredita no efeito das medidas. Só que o caso de HPS ainda se complica mais, porque os tais 410 000 mortos são para uma simulação a 2 anos ("total number of deaths seen in a 2-year period") e não até ao fim de Março, meados de Abril, Maio de 2020 ou até à chegada da radiação ultravioleta, para respeitar as ideias do génio que "previu" 10 000 mortos para a Itália. Chega de disparate? Ainda não: no relatório 9, as simulações incluem, além do cenário "do nothing", outros cenários com grau variado de medidas não-farmacológicas ao longo dos 2 anos. E tendo em conta que, na sua primeira investida no Reino Unido, o Sars-Cov-2 já matou 42 647 pessoas,  é muito curioso reparar que, nas simulações a 2 anos,  o cenário para as medidas mais brandas a estimativa já falhou (5 600-48 000 mortos) o cenário seguinte (6 400 - 71 000 mortos) poderá falhar facilmente, mesmo admitindo a sazonalidade e que o vírus não matará tanto nas próximas duas investidas (ainda dentro do período de 2 anos), e só o terceiro cenário (47 000-120 000 mortos) dá alguma garantia de que o número total de mortos em dois anos estará contido no intervalo de confiança. Por outras palavras, três ou quadro meses bastaram para que os cenários previstos pelo Imperial, que foram gozadíssimos por pessoas como HPS, não parecessem irrealistas. O que levará alguém a esconder toda esta informação e, com uma fanfarronice de ignorância e desonestidade intoleráveis, tentar passar por simulação da realidade a poucos meses o que na verdade é uma simulação a dois anos de um cenário imaginado

Se algum académico escrevesse o que HPS escreveu e não se retractasse à primeira oportunidade, seria motivo de chacota na comunidade científica e provavelmente teria problemas com a entidade empregadora. Mas no mundo inimputável dos blogs de um país sem massa crítica de leitores críticos e dado ao nacional porreirismo, a aldrabice não incomoda assim tanta gente.  

Amanhã escrevo sobre a caricatura que HPS fez dos epidemiologistas e a sua visão da epidemia na China. O primeiro exemplo é um caso de anti-elitismo e o segundo de "conspiracionismo", duas características muito comuns nos negacionistas. Mas o anti-elitismo e "conspiracionismo" de HPS não são genuínos, o que  faz de HPS uma variedade resultante do cruzamento de um negacionista puro com um bullshitter puro.

 

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