Dados sobre a pandemia
Eremita
Também há artigos no Observador sem ideologia, só dados.
Para tirar lições da atual crise pandémica é fundamental investigar quais foram as políticas mais eficazes, o que requer uma larga base de dados e uma análise econométrica competente. Certamente que muitos papers serão publicados sobre este tema. Um grande número de especialistas defendeu uma política estrita de distanciamento social que obrigou ao lockdown das sociedades. Observando o Gráfico 6 verificamos que houve pouca variação desta política entre os países da União Europeia. Um problema adicional é que quanto maior for a taxa de infeção em geral maior será a propensão para o respetivo governo aplicar uma política mais restritiva. Ou seja, é uma variável endógena*. Se olharmos para o gráfico verificamos que os 6 países com restrições mais altas têm taxas relativamente baixas de infeções e mortes. Mas já França, o sétimo, tem taxas relativamente elevadas. E entre os países com mais baixas restrições, encontramos a Dinamarca e Suécia que não estão entre os países com taxas de infeção e mortes baixas, mas o 3º país, Letónia já tem uma taxa baixa.
Uma outra variável que tem surgido na imprensa como importante é a obrigatoriedade de vacinação contra a tuberculose, ou BCG. Esta variável tem sido sugerida como explicando uma grande parte do êxito da Europa de Leste na crise epidémica, pois os antigos países da orla da União Soviética obrigavam à vacinação das crianças. A mesma variável explica porque é que os Estados da antiga Alemanha de Leste têm menos infetados e mortes dos que os da antiga Alemanha Federal. O mesmo na diferenciação de Portugal em relação à Espanha. De facto, uma regressão preliminar mostra que este fator tem um elevado grau de explicação na taxa de infeções.
Outros fatores que devem ser investigados são a contribuição de minorias mais vulneráveis, como os negros e índios nos Estados americanos, ou dos Chineses na Lombardia (várias fontes indicam a presença de cerca de 200 mil chineses na indústria têxtil italiana), ou de minorias de imigrantes em determinados países; a taxa de envelhecimento da população e a sua situação de saúde, dada a grande incidência nos grupos mais idosos. Abel Mateus
* Este facto, o paradoxo da prevenção e o viés ideológico eternizam uma discussão que deveria gerar rapidamente um consenso alargado entre pessoas informadas.