Os avatares acidentais de André Ventura
Eremita
Rui Tavares lembrou-se de propor que se erguesse um cordão sanitário em torno de André Ventura para lhe cortarmos o pio. Não ter previsto que lançar esta discussão iria ter um efeito contraproducente foi de uma burrice desconcertante. Obviamente, uma ideia destas só funcionaria se fosse posta em prática sub-repticiamente e nunca fosse assumida, nem provada, para não dar a Ventura o trunfo da vitimização, nem câmaras de ressonância que ecoam o seu nome. O número de virtue signalling do fundador do Livre fez com que neste momento se assista a uma troca de mimos entre os egos inflamados de Rui Tavares, João Miguel Tavares e Miguel Sousa Tavares. Na prática, digam o que disserem, funcionam como três avatares acidentais de André Ventura, que deve estar deliciado com este bónus de atenção.
Por muito que me custe reconhecê-lo, é óbvio que André Ventura, um escroque oportunista e megalómano, atingiu um patamar de mediatismo em que anunciar que se recusa debater com ele só o beneficiará. A estratégia deve ser a oposta: debater sem subvalorizar o adversário, nem ficar afundado na poltrona da superioridade moral, mas fazendo o TPC e usando factos que demonstrem os podres do Ventura, como aqui demonstra Bárbara Reis. Aliás, na ânsia de infligir uma ferida narcísica, a resposta de Rui Tavares a Miguel Sousa Tavares é contraditória, porque ele termina avaliando a prestação do jornalista e adepto do FCP no debate com Ventura sobre o caso Marega. E se o Rui pensa mesmo que o Miguel não esteve bem, o que terá ele pensado do seu amigo Ricardo Sá Fernandes, um profissional da argumentação que está sempre a aparecer e conseguiu o feito de perder o debate sobre a devolução de património às ex-colónias com um oponente que tinha sugerido que se empacotasse a Joacine Katar Moreira para a Guiné-Bissau?