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OURIQ

Um diário trasladado

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Um diário trasladado

29
Nov19

Dever de imbecilização


Eremita

Isto é, os montantes que ali se encontravam eram de Santos Silva que repetiu o que tinha sido dito no primeiro dia: foram reunidos por sua ordem para pode levar ‘dinheiro vivo’ — entre 10 mil a 20 mil euros de cada vez — para as suas missões empresariais em Marrocos, Argélia, Líbia e Roménia serem bem sucedidas. Além disso, podiam ser necessários para alguma emergência.

E como poderiam ser bem sucedidas? Pagando a alegados responsáveis políticos desse países contrapartidas pela adjudicação de contratos de obras públicas mas também para pagar residências a trabalhadores expatriados. Observador

Se bem percebi, foi uma confissão de Carlos Santos Silva. Não provando nada, denota uma predisposição para a falcatrua. Aliás, é extraordinária a franqueza com que fala em "contrapartidas", como se fosse normalíssimo ou houvesse uma espécie de What happens in Argel stays in Argel. Melhor, só mesmo a discreta adversativa que assinalei.

Embora o mais provável seja o "mas" vir da cabeça do jornalista, talvez traduza o pensamento de Santos Silva. O empresário conjugaria a  corrupção activa com uma viva consciência social que o levava a pagar a residência a trabalhadores expatriados. Ou então dava-lhe jeito pagar assim para o trabalho ficar mais barato, claro, mas não se pode fazer esta insinuação, porque devemos proteger o Estado de Direito e seria maldade irritar o Valupi. Vão ser anos disto. Por causa do dever de cidadania, a Operação Marquês é a maior ameaça ao culto da sabedoria, pois quanto mais vamos sabendo mais imbecis temos de nos tornar. 

PS: Só lamento ver o nome do saudoso e brilhante João Pinto de Castro a ser arrastado para esta pocilga.

29
Nov19

A possibilidade de uma ruiva


Eremita

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Amor, vou pintar o cabelo, ok?

E de repente, sem comprometer a fidelidade, dormir com uma ruiva ganha uma probabilidade talvez não inferior à que teria tido nos meus melhores anos se tivesse feito inter-rail na Escócia, uma probabildade seguramente superior à que levou o seleccionador José Augusto Torres, no já longínquo 1985, a proferir uma frase que não era sequer dele, mas passou a ser. Deste-nos o milagre de Estugarda, Senhor. Peço-te agora muito menos, apenas que vicies os dados no momento de uma escolha. Até chegar a casa, a expectativa será crescente e também eu irei dizendo ao longo do dia, mas como um murmúrio: "deixem-me sonhar".

26
Nov19

Os homens que não gostam de música


Eremita

Com a má educação das crianças mimadas, Vasco Pulido Valente grunhiu qualquer coisa a propósito de palavras de ordem de José Mário Branco durante o PREC para o desconsiderar. Tendo em conta que não conheço duas linhas sequer de VPV sobre música em 30 anos,  concluo que estamos perante uma pessoa que não tem nada de melómano. Sempre desconfiei dessa gente. Também Alberto Gonçalves se esforçou para desconsiderar José Mário Branco, mas como o Gonçalves se tem por especialista em música pop, teve de teorizar um pouco, oferecendo-nos cosmopolitismo provinciano — não tentem fazer o mesmo em casa, pode dar entorse. Para o extraordinário Gonçalves, só há dois músicos portugueses de dimensão internacional (Amália e Paredes), pelo que homenagear José Mário Branco, uma celebridade circunscrita na geografia e no tempo, é um exagero. Aplicando esse critério, pouparíamos imenso em elogios. Por exemplo, é talvez por terem nascido numa pátria minúscula como Portugal que Pulido Valente e Gonçalves recolhem tantos encómios pela excelência da sua escrita. O que vale um Pulido Valente enquanto historiador à escala global? Que mérito planetário tem a inegável boa prosa de Gonçalves? E qual o valor destes exercícios? Nenhum, são fruto da má fé ou de uma febre de bibliometrização das biografias. Continuemos pois a apreciar as ilusões que decorrem da fragmentação do mundo. Até a criatura mais banal pode ter sido em tempos o melhor da sua rua. Não é um consolo? 

20
Nov19

Factos deitados ao lixo


Eremita

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Uma das características do discurso populista é a manipulação da evidência. A esquizofrenia instrumental de André Ventura, que não vê nenhum problema entre escrever uma coisa na tese de doutoramento, para agradar ao júri, e dizer o contrário nas televisões, para agradar aos eleitores, é  apenas o caso mais mediático. Ainda mais extraordinários são os posts de Cristina Miranda, no Blasfémias. São sempre textos longos, aborrecidos e esforçados, isto é, que revelam trabalho de casa. Cristina Miranda apresenta factos e referências para sustentar as suas ideias. Infelizmente, as suas fontes tendem a ser péssimas. A propósito do caso trágico da mulher que colocou o filho recém-nascido no lixo, Cristina Miranda não perdeu a oportunidade de teorizar sobre o nosso declínio civilizacional às mãos dos marxistas culturais e estabeleceu uma relação causal entre a despenalização do aborto e o infanticídio. Já ouvimos maluquices parecidas vindas dos EUA, mas fico sem perceber se Cristina Miranda pratica uma pesquisa por palavras já viciada que lhe devolve apenas a informação pretendida ou se descarta toda informação que não lhe dá jeito. Em todo o caso, o infanticídio nas sociedades ocidentais diminuiu entre 1960 e 2009, precisamente o período em que a maior parte dos países despenalizou o aborto (sem pretender ver aqui uma relação causal). Evidentemente, a única reflexão de ordem prática que o caso do bebé deitado no lixo desperta é se não deveria ser possível entregar o recém-nascido a uma instituição de um modo expedito e com a censura social minimizada. Por uma vez, estou de acordo com o Henrique Raposo, que defendeu o regresso da roda dos expostos.  

13
Nov19

Uma ideia electrificante


Eremita

O machismo violento alimenta-se da superioridade física do homem e da inferioridade física da mulher. Só me ocorre um remédio: ensinar às raparigas, desde os bancos da escola até ao final do liceu, artes marciais. Deveriam ser uma cadeira obrigatória! Seriam infinitamente mais úteis do que o salto à barra ou qualquer outro tipo de ginástica. Seriam uma forma efectiva e eficaz de dar poder ao sexo fisicamente mais fraco. Dariam às mulheres mais poder e mais força; dar-lhes-iam poder alicerçado em força, já que a força bruta é em última análise o respaldo de todos os poderes. Se algum governo tivesse a imaginação e a coragem de introduzir uma cadeira obrigatória de artes marciais, não tenho uma dúvida de que o risco da bofetada, do empurrão, da agressão diminuiria drasticamente: o macho pensaria três vezes antes de levantar o punho. M. Fátima Bonifácio, Público

Ler M. Fátima Bonifácio é um guilty pleasure. Da sua imaginação e coragem saem sempre propostas estapafúrdias. Mesmo quando defende algo incontroverso (a igualdade entre homens e mulheres) consegue surpreender. A ideia de que duas horas semanais de judo para as raparigas ou karaté dirigido às partes baixas teriam um efeito dissuasor sobre o namorado adolescente com o orgulho ferido, um violador desconhecido ou um futuro marido alcoólico ou temperamental revela uma fé na capacidade transformadora do Estado que nem no PCP, Bloco e Livre se encontra. Alguém informe esta especialista no século XIX que entretanto se inventou o taser. Para diminuir o desequilíbrio de força entre os sexos, não há solução mais efectiva... perdão, mais eficaz... ou melhor, mais efectiva e eficaz, pois não queremos soluções eficazes que não sejam efectivas, nem as efectivas que não sejam eficazes— a humanidade, como se sabe, divide-se entre os que criticam as primeiras e os que evitam as segundas. Enfim, existem até modelos de tasers com a cor certa para feministas que, como Fátima Bonifácio, fazem logo questão de afirmar que desprezam os estudos de género e o progressismo esquerdista. Mas leiam tudo. É desconcertante. Tenho pelo cérebro de Fátima Bonifácio o mesmo fascínio que sinto pelos donos de divisões com mobiliário que nunca seria uma escolha minha. 

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11
Nov19

11


Eremita

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Procurámo-la para que a pudéssemos esconder como a arma de dissuasão proibida. Andámos pelos bairros dos desfavorecidos, colocámos anúncios nos placards dos supermercados e das lavandarias, criámos rumores como quem lança redes ao mar, mas nada. Nem sei hoje por que razão não nos lembrámos da solução óbvia mais cedo. Para encontrar a mais rara das criaturas, nada bate um casting. Com alguma preocupação, o nosso homem dos números, um génio do Técnico, tinha avisado: "no país calculo que 0.3 pessoas reúnem essas características. Admitindo algum grau de correlação entre as características, talvez existam 5 a 25 pessoas". Entre nós, passámos a tratar a raridade como o unicórnio da interseccionalidade. 

Continua

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