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OURIQ

Um diário trasladado

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30
Abr19

Liberdade de expressão, as religiões do livro e uma aposta


Vasco M. Barreto

Cartoon Antonio.jpg

mw-320.jpg

Cartoons polémicos de António

 

O The New York Times pediu desculpa por ter publicado o cartoon que mostra Trump e Netanyahu. 

 

Nas próximas 48 horas, Helena Matos escreverá que António nunca se meteu com Maomé (é a aposta). 

 

Também estou muito curioso quanto à defesa pífia de António que farão alguns dos nossos paladinos da liberdade de expressão mais ilustres, geralmente tão implacáveis e dinâmicos nestas matérias. 

 

 

30
Abr19

Aldrabões de todo o mundo, eis a vossa redenção


Vasco M. Barreto


When cooperation between the individuals in a group is ensured, there is no further selective pressure for biological integration and the emergence of a new level of selection.

(...)

Rather than finding ways for optimal cheater suppression leading to multicellularity, Hammerschmidt et al. test the hypothesis of Rainey and Kerr (2010) that the appearance of cheats could play an important role for the evolution of multicellularity. Cheater suppression they argue could undermine the transition towards a new Darwinian individual at the level of groups.  Biology and Philosophy


 
30
Abr19

ÁGUA RÉGIA


Vasco M. Barreto

Screen Shot 2019-04-20 at 08.01.51.png

ÁGUA RÉGIA do lat. aqua, água + regia, "id.", mistura de ácido nítrico (ver Água Forte) e clorídrico, também conhecida pelo mais pedestre nome de ácido Nitroclorídrico 1. Etimologia e "o meu primeiro kit de química"  O nome vem da propriedade desta corrosiva mistura de dissolver metais nobres, como o ouro e a platina. O ouro das medalhas Nobel atribuídas a (pub) Max von Laue (em 1914) e a (pub) James Franck (em 1925) foi dissolvido em ~ e assim permaneceu escondido durante a invasão da Dinamarca pelos nazis. Após a retirada destes, o metal foi precipitado da solução e devolvido à Fundação Nobel, que depois ofereceu novas medalhas. O estratagema encontrado foi original mas de mérito duvidoso já que, salvando a matéria-prima, destruiu o objecto. Dependendo do artista, demos graças ou lamentemos o facto de a moda de dissolver preciosidades para efeitos de ocultação não ter colhido entre os coleccionadores de arte 2. Realidades desconhecidas e Generalizações abusivas Desde que subiu ao Trono, Isabel II do Reino Unido tem-se recusado a tomar banho com o argumento, aparentemente razoável, de que a água que sai do seu chuveiro em Buckingham Palace danifica as Jóias da Coroa. A sua recusa manteve-se mesmo após as Jóias terem sido trancadas na Tower of London e por causa disso, e em vista da sua empatia com a plebe inglesa, também ela é conhecida como "The Great Unwashed" 3. Segredos da Monarquia Lusitana No Palácio Ducal de Vila Viçosa há uma vasta colecção de penicos feitos de nobres metais. Conta-se que foram usados em testes de paternidade reais, pois príncipe que ao neles mictar não largasse fumo, não seria herdeiro legítimo do trono. Esta tradição não vem descrita nos livros oficiais da História de Portugal, talvez devido ao embaraço causado pelo impecável estado de conservação de toda a colecção 4. A cábula do bartender Soltando vapores e tendo uma coloração amarelada, a ~ dá uns cocktails de belo efeito, sobretudo se ornamentados com uma sombrinha lilás. A base é constituída por uma parte de ácido nítrico e três de ácido clorídrico, mas não há razão para se não experimentar outros rácios passíveis de prolongar a agonia dos convivas mais irritantes. Por perder propriedades rapidamente, a ~ deve ser preparada no mixer imediatamente antes de ser servida, como é apanágio do bom profisisonal de restauração . Os experts aprenderam também a não mergulhar azeitonas no cocktail, servindo-as sempre num pires à parte.

30
Abr19

Um Outono em Praga (4)


Eremita

bola velha.jpg

Nos Olivais nunca consegui grande fama como jogador. Era um tipo aplicado, que suava a camisola. Jogar com o pé esquerdo dava-me alguma vantagem, mas faltava-me talento. É curioso como por vezes a vida funciona ao contrário: muitos viagem porque são craques; eu tornei-me craque depois de viajar. Vivi o Outono de Praga com intensidade. Não erro na estação. Para mim não foi na (pub) Primavera, foi no Outono. Em Praga, num fim de tarde pós-revolução de veludo, com o sol já frio e rasteiro, fiz num campo de futebol de salão o jogo da minha vida. Provei a glória e só na manhã seguinte admiti que tinha jogado contra um bando de toscos. Nove a um e sete foram meus. Com os meus túneis, bolas em arco a entrar no canto superior direito e slaloms, fui um gigante. E a cidade parecia ter sido escolhida a dedo. Não se sabe por que acaso genético e cultural, mas aos olhos de um português pouco dado a exotismos Praga tem provavelmente a melhor concentração natural de mulheres deslumbrantes. Naquela semana, ainda sem a prática amadurecida para decifrar as pistas do amor, cheguei a apaixonar-me duas vezes no mesmo dia. Naturalmente, foi com indisfarçável satisfação que notei que o meu génio contagiou o mulherio que assistia à partida. Foram ao ponto de me elogiar os caniços. Seria esse o comentário a fazer transbordar o copo de ilusão. Na manhã seguinte, ainda na cama, ao olhar para a cruel realidade das minhas pernas — o défice de musculatura e o magro perímetro de coxa — comecei a ressacar a glória da véspera.

 

Nenhum dos toscos que venci era checo, antes estrangeiros como eu, mas de países sem tradição no futebol. Como se sabe, os checos têm jeito para jogar à bola, como jeito têm as checas para gozar com estrangeiros em pico de megalomania, o que talvez não seja do conhecimento geral. Fica o aviso. 

Da série A Bola no Olival, 100 textos curtos sobre a infância antes da puberdade no bairro Olivais Sul (Lisboa) no final dos anos 70, princípio dos anos 80. Os textos apareceram pela primeira vez no extinto A Memória Inventada e estou a republicá-los no Ouriq com pequenas emendas e acrescentos. 

29
Abr19

Humor, cancro e obsessões


Eremita

Screen Shot 2019-04-29 at 17.35.50.png

Fonte

Prefiro piadas sobre cancro às notícias sobre vítimas de "doença prolongada", como se fosse vergonhoso morrer de cancro ou desconfortável para os telespectadores ouvir tal palavra. Mas o verdadeiro interesse deste post só pode ser apreciado por quem acompanha o Valupi. Há muito tempo que o Valupi vem criticando Ricardo Araújo Pereira num crescendo impressionante, essencialmente porque o humorista goza com Sócrates a propósito dos crimes de que ele está acusado. Desta vez foi mais longe: criticou uma piada feita por alguém do programa de RAP (duvido que tenha sido ele) que nem sequer menciona Sócrates.

 

Daqui a muitos anos, já com Sócrates enterrado ou desaparecido, o velhinho Valupi continuará a criticar as piadas do RAP e poucos saberão de onde lhe vem a repulsa. Há muito disto no espaço público, muitos ódios que fizeram o seu caminho para a orfandade.

 

 

29
Abr19

Obrigado, Martin Amis


Eremita

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(pub) New Yorker

Quando as miúdas estão com birras impossíveis, tento protegê-las da minha irritação transferindo-a para aqueles pais que desaparecem da vida dos filhos quando estes são bebés e tentam a reaproximação 20 anos depois. Por vezes resulta, sobretudo se consigo recriar a imagem exacta desses pais - tentei com um pai abstracto ou uma personagem da literatura e não é a mesma coisa. Por isso, quando as miúdas começarem a ler Martin Amis, espero que ele ainda esteja vivo, pois conto dizer-lhes que lhe escrevam a agradecer-lhe por (pub)  ter sido quem como foi

28
Abr19

Guarda-redes (3)


Eremita

bola velha.jpg

Cheguei a ter umas luvas amarelas. Eram umas boas luvas, embora modestas. Sobre a malha amarela havia fileiras de pontos negros de borracha, que me fizeram um pouco menos frangueiro. Mas fui sempre frangueiro,  até perceber que a vida de um defesa esquerdo é mais tranquila. Só gostava de defender remates de longa distância. Faltava-me instinto de oferecer o corpo à bola nos remates à queima-roupa e a confusão dentro da área não era para mim. Ponhamos o dedo na ferida: a coragem física é essencial num guardião. Por isso, de nada valia o vício das defesas de pontapés de longa distância. E não se podia pedir ao avançado que rematasse sempre de longe e ao ângulo esquerdo, só por ser para onde eu voava com facilidade e - curiosamente - em ambas as balizas ser esse o lado com a relva mais farta. Eu vivia iludido com a ideia de um talento que não possuía e equivocado, pois encarava o atacante não como um adversário mas um cúmplice. Creio ainda que me julgava com poderes mágicos para desacelerar a realidade, pois de outo modo não se explica que pensasse durante tanto tempo na estirada que iria fazer. Era uma experiência extra-corpórea mal concretizada, pois em vez de um corpo sair à velocidade da luz do meu eu contemplativo e imóvel para fazer a mancha, saía vagaroso, apenas a tempo de não ouvir as críticas dos meus colegas de equipa. Cheguei a fazer umas boas defesas, que foram meros acidentes estatíscos, e consegui esquecer todos os meus frangos como nunca viria a esquecer os erros de ortografia, mas foi uma decisão acertada mudar de posição.

 

Ainda hoje é o guarda-redes quem mais respeito, por ser o jogador mais singular e aquele que tem o fardo mais pesado sobre os ombros. O guardião é um bode expiatório até prova em contrário. Não é coincidência que o pesado pensamento filosófico centro-europeu tenha escolhido, ainda que com uma pertinência discutível, a angústia do guarda-redes para metáfora de vida em (pub) Die Angst des Tormanns beim Elfmeter !  Ponhamos o dedo na ferida, agora ainda mais fundo: a coragem é essencial para se viver. Era essa dimensão trágica que me atraía. Mas faltava-me a queda. Nunca me ocorreu tirar as luvas amarelas num momento crucial e defender o remate com as mãos nuas. Apenas momentos como esses fazem um herói de bairro e reabilitam um frangueiro.

 

Da série A Bola no Olival, 100 textos curtos sobre a infância antes da puberdade no bairro Olivais Sul (Lisboa) no final dos anos 70, princípio dos anos 80. Os textos apareceram pela primeira vez no extinto A Memória Inventada e estou a republicá-los no Ouriq com pequenas emendas e acrescentos. 

27
Abr19

ALVAREZ, LUIS E WALTER


Vasco M. Barreto

Screen Shot 2019-04-20 at 08.01.51.png

ALVAREZ, LUIS (1911 ñ 1988, pai de walter)  e WALTER (1940-, filho de Luis) Dupla que descobriu níveis de irídio acima dos valores normais - a (pub) anomalia de irídio - numa camada argilosa que data do topo do Cretácico. O irídio é um elemento muito comum em corpos meteóricos, levando à proposta de que um gigantesco asteróide ou cometa colidiu com a Terra há cerca de 65 milhões de anos. Daí teria resultado um levantamento de partículas que ensombrou o planeta, afectando a produção fotossintética e subsequentemente todos os níveis tróficos, para culminar numa extinção em massa. Sem pôr em causa a validade da hipótese, não é de excluir que a ideia para este negro cenário seja um efeito secundário da sublimação do complexo de Édipo; não deve ter sido fácil ao geólogo Walter suportar a colaboração com o físico de partículas Luis, sobretudo ao perceber que, tantos anos passados, era ainda o pai quem lhe corrigia as contas.

26
Abr19

"E se o 25 de Abril não tivesse existido?"


Eremita

O sonho húmido do historiador de direita

Por estes dias, o blogger ou colunista de direita publica inevitavelmente um texto com doses variáveis de três ingredientes essenciais. Um dos ingredientes é o enfado pelas comemorações, que quando usado com mão pesada tende a gerar as prosas mais patetas, como a deste (pub) pequeno censor que se diz liberal. O segundo ingrediente é a referência ao 25 de Novembro de 1975, hoje um (pub) reflexo pavloviano desencadeado pela iconografia abrilista. Mas é o terceiro ingrediente que realmente promete. Eles ainda não foram capazes, mas estão cada vez mais perto de demonstrar a irrelevância do 25 de Abril escrevendo uma história alternativa sem Chaimites nas ruas de Lisboa. Os historiadores conservadores - salvo erro - adoram particularmente a história contrafactual, que consiste em remover um acontecimento passado e ver o que teria sucedido depois ((pub) Niall Ferguson editou um volume destes exercícios e, por cá, Rui Ramos já se pôs a imaginar o futuro alternativo caso Sá Carneiro não tivesse morrido). Qualquer conservador escreveria uma história contrafactual sem o 25 de Abril para demonstrar que a data pouco ou nada contou, pois o que o 25 de Abril (combinado com o 25 de Novembro) teve de inegavelmente positivo (a liberdade e a democracia) era uma inevitabilidade histórica que alguns enigmáticos agentes concretizariam e quanto à evolução socioeconómica Salazar e Marcello Caetano teriam a coisa bem encaminhada. As tentativas ainda são tímidas e essencialmente apenas reacções ao que identificam como os (pub) delírios da exegese esquerdista de Abril, mas mais tarde ou mais cedo o (pub) Dr. Rui Ramos irá inspirar algum jovem lobo da nova alcateia de historiadores que - dizem-nos - se libertaram entretanto do marxismo cultural


Guardian http://destyy.com/wMd6ez

 

Aeion  http://destyy.com/wMd9aX

 

 

 

26
Abr19

AUTOSSOMA


Eremita

Screen Shot 2019-04-20 at 08.01.51.png

Autossoma (s.m. do gr. autós, próprio + sóma, corpo)  Cromossoma casto, não sexual 1. Matemática Conta aritmética instintivamente feita de cabeça 3. Genética e S&M Doenças ou características unicamente dependentes de um determinado alelo presente num ~ dizem-se de tipo autossómico dominante; se o alelo se encontra no cromossoma sexual X diz-se ser do tipo (pub) dominatrix, em particular quando codifica uma predisposição para chicotes, algemas e cabedais 4. Aperto mensal  Dívida total a pagar ao Banco pelo empréstimo do automóvel.

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