Da palpitante urgência de condicionar
Eremita
Dizem-me que Valério Romão é um dos nossos melhores escritores. A julgar pela citação, estamos bem tramados. O comentário que li no Elogio da Derrota é certeiro: do estilo ao conteúdo, passando pela lógica, nada se salva na passagem cuja única virtude parece ser a síntese difícil de abjeccionismo e conservadorismo. Valério Romão lamenta o desaparecimento de um tempo que só ele se lembra de ter existido. Um tempo em que a foto da pin up servia de musa diante da qual, sozinho no seu quarto, o adolescente borbulhento calejava a mão compondo poemas. Nesse tempo, ninguém tinha a cabeça poluída pelos ícones sexuais promovidos pela cinema e a publicidade, ninguém era escravo de um desejo massificado que o mercado controlava e, em particular, as mulheres, últimas guardiãs do amor romântico, só abriam as pernas diante da criatura singular que seria hoje um amante improvável. Enfim, Valério Romão remata dizendo que não evita a risota. Já somos dois.

