A Baby TV discrimina os pais
Eremita
Houve um período em que as minhas filhas diziam "papá" tantas vezes como "mamã". Durou pouco e talvez tivesse coincidido com uma fase em que o ascendente biológico da mãe já não se notava e ainda não se faziam sentir os efeitos da crescente socialização em que a figura materna é omnipresente. Basta lembrar que na Baby TV há uma canção sobre a mãe, mas não sobre o pai, há uma avó (do macaco "MJ") e mesmo um avô (que faz robôs), mas não há um pai. Para a Baby TV, como nas histórias em que os bebés são trazidos pelas cegonhas, os pais são embaraçosas aberrações da natureza de onde saem espermatozóides. Enfim, este viés, que secundariza o pai nos primeiros anos da parentalidade e se entende como uma compensação para as inúmeras injustiças que as mulheres ainda sofrem, não incomoda assim tanto e chega a ter graça, pelo menos até ao dia em que um juiz pergunta à criança em casa de quem quer ficar a viver.
