Gonçalo M. Tavares
Eremita
Nunca o li com o tempo e atenção que merece. Mas já o folheei várias vezes, sobretudo os livros que registam pequenas reflexões (sobre música e ciência, nomeadamente). Fascina-me que não haja leitores cépticos e que GMT seja a nossa discreta unanimidade nacional. Mais do que ter criado um estilo novo, fica a sensação de que o escritor inventou um nicho, único entre nós, em que funde ficção, poesia e filosofia. É algo que não se consegue sem mérito e só um idiota não repararia no gozo contagiante que GMT tem no acto de pensar, mas certas passagens mostram uma facilidade de escrita que não contribui para a qualidade da reflexão. Fica a dúvida: haverá críticos em Portugal capazes de analisar a obra de GMT, o mais filosófico e destacado escritor português do XXI? Não faltará ao crítico luso típico que escreve na imprensa competência em Filosofia para escrutinar GMT e ao filósofo profissional a vocação (e tradição) para criticar um escritor que se move na esfera comercial, fora da academia? Por outras palavras, quando será que António Guerreiro, o mais competente dos críticos literários com formação em Filosofia, porá de lado três semanas para merguhar na obra de GMT e nos oferecer a crítica definitiva? Parece-me que seria um emparelhamento mais frutuoso do que o de Guerreiro com Rentes de Carvalho.
Adenda: com uma ajuda do Google, descobri que António Guerreiro apresentou já um livro de GMT. Naturalmente, tratou-se de o Atlas do Corpo e da Imaginação. Isto significa que Guerreiro apenas precisaria de duas e não três semanas para escrever uma crítica de 4 páginas (broadsheet, num número especial do Público) sobre a obra de GMT.
