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OURIQ

Um diário trasladado

OURIQ

Um diário trasladado

25
Abr15

"A bright future behind him"


Eremita

"In Southern California September was not much different from any other month. The weather was clear and bright and there was no rain. According to the newspapers there was a war in Europe, but Jim was not sure what it was all about. Apparently there was a man named Hitler who was German. He had a mustache and  comedians were always imitating him. At every party someone was bound to give an imitation of Hitler making a speech. Then there was an Englishman with a somewhat larger mustache and of course there was Mussolini but he didn't seem to be in the war. For a while it was very exciting, and there were daily headlines. But toward the end of September Jim lost interest in the war because there had been no battles. Also, his days were now occupied teaching tennis to rich men and women who were not very interested in the war neither." Gore Vidal, The City and the Pillar

Vidal tinha 21 anos ou menos quando escreveu esta passagem magnífica. Quase todos os desportistas ficam para a História por feitos realizados antes dos 30 anos. Os físicos teóricos atingem o pico aos 35 anos. A partir de certa idade, já ninguém espera muito de nós e a vida seria muito mais tranquila se aceitássemos esse destino. Mas nem todos têm essa opção. 

20
Abr15

Afinando o tributo a John Coplans


Eremita

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A série Tributo a John Coplans tem sido a que mais sofreu com o espartilho da vivência em Ourique. Não me peçam a explicação, mas parece que trasladar a vida é muito mais fácil do que trasladar o tacto. Não basta agora alguma cosmética, é necessário implementar verdadeiras mudanças estruturais para que a série sobreviva. Irei então emendar a mão e reformular as entradas anteriores para que tudo comece a fazer algum sentido. Mas o propósito inicial permanece: fazer um diário do corpo, que continuo a ver como uma boa ideia. Abandonei entretanto uma solução péssima que se insinuou durante alguns dias, a saber: forjar o diário como se o tivesse começado a escrever ainda criança, o que me obrigaria a baixar o nível de introspecção nas primeiras entradas para não perder verosimilhança. Quem se interessaria por relatos infantis de um corpo banal, que ocupariam as primeiras páginas e me fariam perder os poucos leitores que tivessem começado a ler o livro? (É verdade, penso em livros e não em posts, mas não é por megalomania, apenas desajuste, à semelhança daquelas pessoas para quem o dinheiro ainda se diz em escudos e contos). Assim, o diário prosseguirá, com uma frente a marcar a actualidade e um carro vassoura a recolher o passado por escrever, mas sempre do ponto de vista de um homem de meia idade, o que, entre outras vantagens, fará com que se privilegie uma qualquer constelação de sinais nas costas à pulsão masturbatória juvenil.  Creio que ficaremos todos a ganhar. Ah, o nome permanece. Devo muito a John Coplans e é confortável ter no título de um texto tão  somatocêntrico um nome que não é o meu. 

19
Abr15

Um peixe amarelo


Eremita

O estado de irritação tem a propriedade de modular os nossos defeitos e qualidades, sendo capaz de insuflar de coragem passageira um cobarde ou de tornar algo estúpida a prosa de alguém que tende a ser inteligente todas as semanas. João Pedro George, ao gozar com o cortejo de admiradores de Herberto Helder, irritou António Guerreiro, que lhe respondeu com despropositada sobranceria. A tese de George é muito simples: os gestos tardios de Herberto Helder, em aparente contradição com a forma como tentou retirar da sua obra qualquer registo da sua biografia que não fosse mediado exclusivamente pela sua poesia, foram a única forma possível de honrar esse percurso. Isto porque facilmente uma coisa se transforma no seu contrário e não é difícil perceber que um esforço activo, prolongado e radical pela ausência de protagonismo é de tal forma distintivo que acrescenta celebridade. Saber se foi mesmo por isso ou por qualquer contradição insondável da alma que Herberto Helder, pouco tempo antes de morrer, tolerou o marketing da maior editora portuguesa e se deixou fotografar pelo Expresso estará sempre sujeito a interpretação e os efeitos práticos de tais gestos serão certamente questionáveis, mas a citação de Herberto Helder (de 1966) referida por George não poderia ser mais premonitória: "Um artista consciente saberá que o êxito é prejuízo. Deve-se estar disponível para decepcionar os que confiaram em nós. Decepcionar é garantir o movimento". Devemos pois admitir que Guerreiro não compreendeu - ou fingiu não compreender - a "espécie de fidelidade" de Herberto Helder, nem se lembrou de o que o autor escreveu sobre "a lei da metamorfose". 

 

 

 

 

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