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OURIQ

Um diário trasladado

OURIQ

Um diário trasladado

27
Abr13

Francofilia de mérito duvidoso


Eremita

Tenho regressado à francofilia. Ouvir Proust e perder alguns minutos a contemplar as aparições televisivas de Emmanuelle Béart serão actividades recomendáveis. Mas nos últimos dois dias passei as tardes na companhia dos vídeos de Alain Soral. Soral é um anti-semita, embora ele prefira definir-se como um anti-sionista. É também um nacionalista, daqueles com simpatia pelo FN, que citam Vercingétorix, Charles de Gaulle e falam dos franceses "de souche". Creio que lhe sobra ainda raiva - ou talvez desprezo - para os homossexuais, além de ser misógino, embora os últimos vídeos que vi sejam sobretudo sobre geopolítica. E não sabe respeitar regras elementares da convivência social, como o direito do outro à palavra e o direito do outro não ser lembrado em público que a sua mulher em tempos foi para a cama com Soral. Enfim, trata-se de uma figura "inapresentável", para usar o neologismo de uma velha amiga, mas fascinante. Um guilty pleasure. O contraste com o "comentário político" que se ouve em Portugal e França nos programas de grande audiência é brutal e não apenas pelo politicamente incorrecto. É verdade que Alain Soral parece uma antítese do enfadonho António José Teixeira, mas qualquer pessoa minimamente inteligente pode construir um discurso politicamente incorrecto. O que geralmente falta é a legitimidade. Ora, a legitimidade de Soral, segundo o próprio, vem das suas suas origens humildes e, naturalmente, a sua retórica é a da escola marxista. Homens, mulheres, heterossexuais e homossexuais não são categorias sociais verdadeiras, tudo se resume a trabalhadores e burgueses. O seu discurso, que funde a  "gauche du travail" com a "droite des valeurs", não será uma quarta via, é sobretudo retórica panfletária para arregimentar os descontentes e os excluídos. Como espectáculo, é viciante, em parte por não haver em Portugal uma figura homóloga. Felizmente, não preciso de explicar esta atracção a nenhum filho.

 

24
Abr13

Dizer mal, dizer bem


Eremita

Prosa lusitana, de hoje a Fernão Lopes


[em actualização permamente]


Leio o Capitão Paddock e o alf, o 30 e picos 40 e tal e o Last Tapes. Não sigo nenhum cronista luso com devoção. Ricardo Araújo Pereira em papel aborrece-me tanto como o Ricardo Araújo Pereira da Meo, embora goste dele na rádio e no Governo Sombra. Quintela enchia chouriços, nas duas ou três vezes que o li no Público. Ferreira Fernandes é bom, embora eu não perceba o culto que existe em torno dele. João Pereira Coutinho anda nisto há 15 anos e ainda pensa que é um conservador capaz de chocar, mas é dos poucos ainda capazes de uma ocasional passagem de génio. Quem mais, quem mais? Nunca terminei uma crónica de Inês Pedrosa. Dizem-me para ler alguns cronistas desportivos, mas só vale a pena acompanhar o comentário desportivo quando há o risco agressão física, o que só acontece nos directos, pois por escrito o combate é excessivamente ritualizado. Lomba. Sempre gostei de ler o Pedro Lomba, sobretudo desde que abandonou a patetice da frase curta; é um cronista viril e já havia tão poucos. Não tenho Facebook, mas o rapaz do cineclube deixou-me espreitar e percebi ao fim de 3 horas que a única pessoa que leva aquilo minimamente a sério é António Pinho Vargas - diga-se que o gongorismo de José Avelino Maltez e mania da perseguição de Alfredo Barroso dão bons folhetins. Mas já tardava esta afirmação destacada a negrito: ninguém escreve na nossa imprensa com a elegância de António Guerreiro. Continuemos: o eclectismo de Pedro Mexia não é tão bom como o eclectismo de Pacheco Pereira, embora o segundo não seja um estilista. 

 

Continua, vou dizer mal e bem de imensas pessoas

23
Abr13

Redacção


Eremita

 


Gosto de raparigas de cabeleira farta que a usam curta. Mas gosto ainda mais das raparigas de cabeleira farta que a usam curta por temerem os gafanhotos. Essas raparigas não vão ao cabeleireiro, pegam numa tesoura e cortam o cabelo em casa. Dispensam ajuda, o medo fez o seu engenho. Quando convivi com uma dessas raparigas, ela estava nua e não quis que a visse. Terá pensado que para mim só a tesoura era sensual e que resolver problemas a pente navalha seria ainda um segredo bem guardado. Tolice, se o que conta é o gesto selvagem e independente. E que vontade de a puxar depois pela nuca, com as madeixas já pelo axadrezado e os gafanhotos lá fora, esborrachando-se contra o vidro da janela. 

13
Abr13

Infidelidade


Eremita

A ideia de escrever um manual de instruções para a infidelidade não é propriamente brilhante. O grande desafio seria conseguir surpreender o leitor, não com conclusões inesperadas ou afirmações disparatadas, mas pelo tom. Um tom absolutamente amoral e sem sair nunca daquela fronteira sinuosa  entre o sério e o cómico. 

 

Excluindo a resenha histórica, os considerandos da psicologia evolutiva e as comparações entre os sexos, que são os exercícios obrigatórios, o livro teria instruções para o infiel com problemas de consciência, o infiel com problemas de agenda, o infiel sem problemas e o infiel apenas em pensamento, entre outras situações, bem como para o fiel que foi enganado, o fiel que pensa que foi enganado e o fiel apenas em pensamento. Em suma, seria um livro para o casal, o que me parece um argumento de peso nestes tempos de austeridade. 

 

 

12
Abr13

Inveja nua


Eremita

Através do Youtube, tenho regressado à francofonia e descobri Jean Marc-Édouard Nabe. Trata-se de um polemista profissional, profissão que começa a despontar em Portugal, mas sobretudo de um escritor que gere muito mal o sucesso de Houellebecq. Este depoimento é uma lição de vida:
 

04
Abr13

Equívocos


Eremita

Mais la principale raison, et celle-là applicable à l’humanité en général, était que nos vertus elles-mêmes ne sont pas quelque chose de libre, de flottant, de quoi nous gardions la disponibilité permanente; elles finissent par s’associer si étroitement dans notre esprit avec les actions à l’occasion desquelles nous nous sommes fait un devoir de les exercer, que si surgit pour nous une activité d’un autre ordre, elle nous prend au dépourvu et sans que nous ayons seulement l’idée qu’elle pourrait comporter la mise en uvre de ces mêmes vertus. À l'Ombre des Jeunes Filles en Fleur, volume I.

 

Creio que me enganei no CD. Swann aparece já casado e não me lembro do seu casamento. Há uma descontinuidade famosa - dizem-me - entre Un Amour de Swann e Noms de Pays: Le Nom, mas talvez seja melhor não a exagerar e ir escutar o que ficou por ouvir. 

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