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OURIQ

Um diário trasladado

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28
Jan13

A curiosidade domada


Eremita

Screen Shot 2019-04-27 at 22.20.21.png

Ignoro o que ao certo seja ser, mas, seja o que for, dispõe de intensidade própria e regulável como o som dum aparelho ou a velocidade dum motor. Luís Miguel Nava

Li alguns poemas de Luís Miguel Nava e sei que teve uma morte violenta. Creio também que seria capaz de identificar a sua foto num conjunto que reunisse os poetas portugueses com obra publicada depois de 1960. Mas não sei mais nada. Fazemos compromissos naturais para não nos consumirmos de curiosidade por uma determinada pessoa. 

10
Jan13

A gente não lê


Eremita

Ainda lemos livros? Tenho sérias dúvidas. Há os profissionais da leitura, mas já não se lê por ócio. É inexplicável que continuem a aparecer editoras, que as feiras do livro sejam um sucesso, que haja novos autores, que tantos livros sejam comprados. Ando há algum tempo a pensar numa forma de medir o tempo que dedicamos à leitura. Não é fácil, todos os métodos me parecem falíveis e a entrada em cena das novas tecnologias ainda complicou mais a tarefa. O Judeu costuma realizar um estranho ritual quando começa a época das alergias ao pólen: traz para a rua todos os livros da sua biblioteca e folheia-os ao ar livre, um a um, como se passasse os dedos com rapidez por um baralho de cartas para lhes tirar aquele som característico. Diz-me que assim aprisiona o pólen em circulação entre as páginas, para enganar o seu biógrafo  - ele antecipa que a invenção da máquina do movimento perpétuo fará com que a a sua biografia resulte de um trabalho de investigação que mobilize grande logística. Enfim, está louco, mas também a sua loucura demonstra o embuste em que vivemos. Ninguém lê. Quando me dizem que estão a ler Joyce, não acredito. Nem sequer acredito quando dizem que estão a ler Gonçalo M. Tavares, ou valter hugo mãe, embora acredite quando dizem que leram a biografia de Maria Filomena Mónica. As pessoas mentem muito, como os mercados. Qualquer dia isto rebenta, como rebentou a bolha do imobiliário. 

10
Jan13

Austeridade


Eremita

Há um desconforto óbvio no desejo de escrever um livro - entre as ideias menos originais que podemos ter, escrever um livro é provavelmente a mais narcísica. Mas, nos últimos tempos, a ideia do livro como legado que justificaria uma vida começa a ser substituída por uma ideia mais interessante e até redentora: o livro como forma de ganhar dinheiro. Querer ganhar dinheiro com um livro é mais megalómano do que narcísico, o que me parece uma qualidade. E a ideia começou já a mudar o livro imaginado. Em vez do projecto BW, penosamente autobiográfico e pretensioso, agora só penso numa amálgama de policial, narrativa histórica, enredo cheio de perversões sexuais toleráveis, choque de gerações e actualidade histérica*. Naturalmente, preciso de um pseudónimo literário para concretizar este plano. Também ando a pensar nisso. 

 

* Cf. realismo histérico. 

02
Jan13

Bossa


Eremita

O que sempre faltou nas letras da MPB, e sobretudo nas da Bossa Nova, foi tragédia, mas o Malomil lembra o que as letras não contam.

01
Jan13

Bom ano


Eremita

O Judeu e eu somos materialistas de inclinação esforçadamente lógica, isto é, quando falhamos reconhecemos que o erro é humano e não cósmico, embora fiquemos sempre em desacordo, porque ele tende a pensar que o erro foi meu e vice-versa. Como em quase tudo, o Judeu é o mais intransigente, ao ponto de travestir de projecto científico o capricho da máquina do movimento perpétuo. No meu caso, admito sem vergonha a cedência a duas ou três superstições e uma delas é dos doze desejos para o ano novo. Este ano agrupei as passas sobre a palma da mão segundo temas (família, amor, sucesso e paz no mundo), apenas para não me enganar na enumeração dos desejos, mas o Judeu irritou-se com o desenho resultante e, com violência q.b., pontapeou-me a mão no preciso momento em que eu buscava a primeira passa. As passas voaram e fiquei paralisado pela dúvida: estariam aquelas passas já possuídas pelos desejos que fui ensaiando enquanto as organizava ou podia substituí-las por doze das muitas outras passas que ficaram ainda sobre a mesa, dentro de uma tigela? Não me decidi a tempo e na formulação dos desejos, como é sabido, o tempo conta. Consegui depois recolher onze das passas e o Judeu aconselhou-me a congelá-las para as utilizar no próximo ano, pois "os desejos, como a necessidade deles, não costumam prescrever". Mas respondi-lhe então que sem a última passa não poderia utilizar nenhuma das outras, nem sequer segundo o expediente de meter todas à boca ao mesmo tempo para contornar a perda irremediável da associação biunívoca entre uma passa e um determinado desejo. Menos por remorso do que pela persuasão do argumento estatístico dos graus de liberdade, o Judeu sentiu-se então mobilizado para a busca da passa perdida e foi essencialmente assim, de cu para o ar, que passámos o resto do serão. Não a encontrámos, mas como o Judeu não tem animais de estimação e a conjuntura o obrigou a dispensar a mulher-a-dias, ainda temos um ano inteiro pela frente. 

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