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OURIQ

Um diário trasladado

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06
Dez12

O futuro


Eremita

Creio que os 100 anos mais importantes para a humanidade estão entre 1850 e 1950. Darwin, Freud, Einstein, as Grandes Guerras e sobretudo os movimentos artísticos. É nesse período que se inventou a imagem do futuro e é esse futuro ainda por concretizar que perseguimos, um futuro iminente, imutável e inalcançável , como o reflexo do sol na areia molhada por onde se caminha. Muito se fez depois, sobretudo ao nível dos materiais, mas para mim o barro do futuro será sempre o betão armado. 

 

Continua 

 

04
Dez12

Os primeiros anos


Eremita


O Ouriquense é a criação de que mais me orgulho nos últimos anos. Não é uma afirmação forte, pois pouco mais fiz. Mas que sirva ao menos para reforçar esta outra: encontrei o meu instrumento e passarei o resto da vida a aprender como tocá-lo. A ideia que aqui se explora, nem sempre com a disciplina e regularidade exigíveis, é a de trasladar as experiências quotidianas para outra geografia (Ourique) e outros interlocutores (as personagens do Ouriquense), em número tão pequeno quanto o estritamente necessário para que não deixe de contar um episódio real só porque não tenho uma circunstância verosímil para criar. Além do capricho, a motivação para trasladar veio de um problema com que provavelmente se deparam todas as pessoas que escrevem para algum público, mesmo que se trate de um blog obscuro: como evitar a interferência daquilo que escrevemos na forma como os outros se relacionam connosco? Este problema teria, à partida, uma solução óbvia: o pseudónimo. Mas quantos conseguem viver sempre na sombra do seu pseudónimo? Reformulando, para que a resposta seja mais quantificável, se houvesse pachorra: quantos livros permanecem efectivamente anónimos, isto é, não associáveis a um dado cidadão? O pseudónimo, na prática, é apenas um pedido de desresponsabilização, como o boneco do ventríloquo. 


(Continua)



02
Dez12

Sociologia de fluxo


Eremita

Como pensa uma operadora de caixa? Antes da obsessão por Tatiana, a minha memória não individualizava operadoras de caixa. Mesmo faltando um uniforme, o limitado conjunto de gestos e a brevidade do encontro transformava a operadora num robô que nenhuma troca de saudações chegava para verdadeiramente humanizar. Este modelo de interacção só era perturbado por uma qualquer rara idiossincrasia: um piercing no nariz, uma tatuagem apenas parcialmente escondida, um comentário espirituoso. É possível que para esta visão da operadora de caixa contribua algum preconceito de classe. Mas se o cliente tem uma posição hierárquica superior à da operadora de caixa, pela própria circunstância de ser cliente - "...tem sempre razão"-, é inegável que a operadora de caixa tem a melhor posição de observador.

 

Há umas máquinas que analisam populações complexas de células da seguinte forma: a população de células, em suspensão num meio líquido, é fraccionada em gotículas microscópicas, cada uma contendo em regra apenas uma célula. Essas gotículas formam depois um caudal descontínuo, que corre a grande velocidade diante de um laser capaz de registar as características físicas de cada uma das células, gotícula a gotícula. A isto chama-se citometria de fluxo. A operadora de caixa faz a mesma coisa a uma população de indivíduos. Podemos já não dizer "bicha", mas a fila de espera não deixou de ser um caudal descontínuo de gente, que a operadora de caixa avalia com olhos de laser. Este blog, real ou fictício, é uma boa ideia.  

01
Dez12

Um caminho


Eremita

Há uma enorme falta de rigor no pensamento de alguns romancistas e outros - digamos -  animadores culturais. O rigor não se deve exigir apenas a quem escreve "romances de ideias" e o rigor não é inimigo da imaginação. Suspeito que nas revisões que se sucedem à escrita de uma primeira versão do manuscrito se perde demasiado tempo a limar a forma.

 

Se noto uma tendência nas minhas preferências de leitura, é esta: cada vez mais perto de escritores rigorosos e depurados, cada vez mais longe de escritores que nunca acrescentariam agora algo como "cada vez mais longe de escritores trapalhões e verborreicos". Como se percebe, a minha leitura leva neste momento um grande avanço sobre a minha escrita.

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