"Você decide"
Eremita
Tive hoje uma ideia boa para um conto. Seria a história de um homem que perverte o bom instinto de acompanhar o seu pai nas sessões de quimioterapia num vício por mulheres com doenças fatais. Tudo começaria por acidente, como se fosse uma bela história de amor... sei lá, ele a virar uma esquina num dos corredores do hospital, ela também, esbarram um no outro, ambos caem, o saco do soro que ela trazia ao alto (como estandarte) rasga-se e molha-o nas calças, ela tem um primeiro impulso para o secar, depois retrai-se, olham-se, riem, ela remata com uma paráfrase da Mae West, ele responde-lhe à Bogart, pronto, são cinéfilos, apaixonam-se, têm tempo para um fim-de-semana em Veneza e são felizes até à morte dela. A partir dessa experiência, por comparação às relações anteriores, que não foi mais capaz de iniciar por se sentir refém das promessas frustradas de futuro, ele conclui facilmente que só pode viver relações com quem já esteja condenado. Ir a Veneza todos os anos passa a ser um ritual. O mesmo quarto, a mesma rotina. Elas não sabem e ele começa a ressacar o vício. 2, 3, 5, 8, 13 mulheres em 13 anos, tantos quantos durou o seu pai. Torna-se então voluntário, faz números de palhaço para as crianças doentes, continua a alimentar facilmente o vício, sabe como descobri-las, a que horas meter conversa. Como se remata esta história? Ora, um dia adoece e começa ele a fazer as sessões de quimio. Ainda pensa em continuar o esquema, o tumor não é muito agressivo, estima que pode ir a Veneza pelo menos mais 4 vezes. Mas não é mais capaz de seduzir as pacientes da ala. Sente-se cada vez mais só. Até que recebe a visita de uma ex-namorada, parece que os anos não passaram por ela, nem por eles, pelo menos quando falam. Enfim, neste momento o leitor pode decidir se nos vamos vingar deste homem ou simplesmente deixá-lo morrer.