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(pub) A brief history of romance comics
- Mas como é capaz? Você sorria...
- Eu sorria?
- Sorriu ao olhar para aquele par de namorados.
- Não é uma visão bonita?
- Não, claro que não.
- Tem inveja deles?
- Inveja, desprezo, pena...
- Complexo, isso.
- Não acredito que ainda goste de ver namorados. Francamente, com a sua idade...
- Gosto muito.
- Lembra-se de como foi?
- Não. Penso em esqueletos.
- Perdão?
- Esqueletos. É um conselho que lhe dou. Quando tiver um problema de socialização, pense em esqueletos.
- Você deve ser tão esquisito na cama...
- Se um interlocutor a intimida, imagine-o como um esqueleto. Falando como um esqueleto, movendo-se como um esqueleto.
- Para quê?
- Para fazer dele uma insignificância irredutível.
- Lá está você...
- Se o imaginar como um esqueleto, não está a adulterar a realidade, estará apenas a ver mais fundo, mais claro. Tudo o que é acessório desaparece. O estatuto da pessoa, as suas características, tudo. Fica o essencial, ou seja, geralmente não fica nada.
- Um esqueleto...
- Uma entidade que se alicerça num esqueleto.
- E os namorados?
- Dois esqueletos. Consegue ver? É hilariante. O fémur com fémur... tong, tong.
- O fémur com fémur?
- Sim, aquele som cheio, caloroso... um som de marimba, está a ouvir?
- Lamento.
- Os namorados ao som da marimba dos seus corpos. É quase africano... música que reconcilia um cínico com a existência.
- Você é tão esquisito. Isso excita-me.
- Então veja-me como um esqueleto, que isso passa.
- Ai, não custa nada. É tão magro.