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OURIQ

Um diário trasladado

OURIQ

Um diário trasladado

26
Jun11

Restauração da francofilia


Eremita

 

 

 

J’appuyais tendrement mes joues contre les belles joues de l’oreiller qui,

pleines et fraîches, sont comme les joues de notre enfance.

Du Cotê de Chez Swann

 

Já não é segredo para os leitores do Ouriquense que aderi ao audiolivro, que vejo no audiolivro a única possibilidade de recuperar o tempo perdido, que encontro na escuta -  e sobretudo na escuta obsessivamente reiterada - quase todas as dimensões da leitura e ainda outras, que Lolita lido por Jeremy Irons foi um festival para a mente e os sentidos, que a audição de The Scarlet Letter está a revelar-se uma experiência exasperante e faz já de excepção que confirma, e que fiz uma defesa deste expediente. Em todo o caso, não estava preparado para o que aconteceu enquanto escutava o primeiro CD da Recherche

 

Continua

 

Ficha Técnica: a série "Recherche" baseia-se na escuta do audiolivro A la Recherche do Temps Perdu: L'Intégrale (111 CD), que conta com André DUSSOLLIER, Lambert WILSON, Denis PODALYDES, Robin RENUCCI, Mickael LONSDALE e Guillaume GALLIENNE. As citações são retiradas da magnífica edição online da eBooks@Adelaide - e viva a Austrália.

 

 

 

25
Jun11

O moço de recados passeia por Coimbra


Eremita

 

Acabo de dar instruções ao moço de recados, a horas da sua partida para  uma missão em Coimbra. Esta viagem será pretexto para  uma análise futura que implica ainda dominar alguma bibliografia: como ir do real banal ao relato insólito e do insólito real ao relato banal e porquê? Não há preparação específica para o trabalho de campo em Coimbra e apesar de termos decicido que ele se deslocará doravante de Casal 50 (para reduzir os custos),  voltei a sentir-me, mas de forma mais aguda do que é costume, como aquele normando que dá instruções de voo a batimentos de braço ao bardo, no topo de uma arriba (Astérix e os Normandos). Trata-se de uma das vinhetas da minha vida e de uma evocação apropriada quando nos deparamos com pedidos absurdos. Mas no caso concreto, é como se o normando e o bardo fossem a mesma pessoa, se é que me faço entender, pois num país com uma justiça mesmo formalista o moço de recados não teria sequer personalidade jurídica.

21
Jun11

Questionário


Eremita

[A rever]

 


 Recebi este questionário de maradona, um blogger da boa margem do Tejo. É só por isso.

 

1 - Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?

 

Conto reler o Robinson Crusoe em inglês, décadas depois de o ter lido em português. É improvável que o mesmo suceda com outro livro, depois de uns cálculos que fiz a partir da minha velocidade de leitura, dos metros lineares de lombadas de clássicos virgens e da minha esperança de vida. Com a audição do Guerra e Paz sucedeu algo de muito curioso e inédito: uma semana depois de terminar a escuta, tive imensas saudades - não de nenhuma personagem em particular, creio que era mesmo saudades de Tolstói - e apeteceu-me voltar a ouvir ou até ler tudo outra vez, mas o tempo das imprudências acabou.

 

2 - Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?

 

Estou a ter enormes dificuldades com a versão em audiolivro de The Scarlet Letter. Nathaniel Hawthorne é um dos escritores mais aborrecidos que conheço, sobretudo ao nível da frase. O mesmo se aplica à obra de António Lobo Antunes, embora a outros níveis, excluindo o Os Cus de Judas, que consegui ler até ao fim e - mas hesito - o A Ordem Natural das Coisas.

 

3 - Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?

 

Robinson Crusoe, creio que me repito - mas a culpa não é minha.

 

4 - Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?

 

A Recherche, claro. Mas acabo o livro antes do final do ano, vou ler e ouvir a obra ao mesmo tempo, não pode falhar. Também preciso de ler Ovídio, é uma intuição muito forte. Quanto à prosa nacional, gostaria de me fazer camiliano antes dos 50.

 

5- Que livro leste cuja 'cena final' jamais conseguiste esquecer?

 

Tenho uma enorme dificuldade em me lembrar do fim dos livros e uma memória muito viva para os arranques. Talvez a cena do The Great Gatsby. Não é bem a cena final, mas a imagem daquele cadáver a flutuar na piscina não se esquece.

 

6- Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?

 

Não. Só comecei a ler quando era adolescente. Li sempre livros apropriados à minha idade, até ter dado com os livros mais recentes de Philip Roth, que devem lidos com mais de 70 anos.

 

7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?


On the Origin of the Species e Moby Dick têm partes muito aborrecidas. Acabei-os por motivos diferentes: obrigação e devoção, respectivamente. História das Ideias Políticas, do Professor Doutor Freitas do Amaral, parece ser ainda mais aborrecido e demoro o olhar na sua capa por uma espécie de tropismo que não consigo explicar.

 

8. Indica alguns dos teus livros preferidos.

 

Vou tentar respeitar uma ordem cronológica que traduz a absoluta banalidade do meu percurso como leitor: Qunize Histórias de Futebol, Tão Longe de Lugar Nenhum (sim, é verdade), Os Cavalos Também se Abatem, As Invenções de Thomas Edison (ou algo assim), Os Descobridores, Os Maias, Contos Orientais, Crónicas dos Bons Malandros e À Noite Logo se Vê, a prosa do Woody Allen, Crónica de uma Morte Anunciada, O Velho e o Mar, A Jangada de Pedra, Bouvard et Pécuchet,  Os Passos em Volta, O Livro do Desassossego, The Great Gatsby, histórias do Salinger, On Grief and Reason, Watermark, Moby Dick e Guerra e Paz, entre outros.

 

9. Que livro estás a ler neste momento?

 

Ando a ler o Infinite Jest há muitos meses. Estou a ler outros, mas prefiro destacar apenas o Infinite Jest. Conto demorar alguns anos a ler este livro, por ser uma leitura difícil e não ter desejo nenhum que acabe.

 

10. Indica dez amigos para o Meme Literário:

 

Rogério, o Bruno, a Fátima, a Marianita , o Alex, o outro Bruno, o Carlos Vidal, o Figueira, a Morgada e o Exmo Senhor Professor Doutor Secretário de Estado da Cultura.

 


20
Jun11

Atribulação de homem que só fazia necessidades se tivesse algo para ler


Eremita

Há poucos lugares mais inóspitos do que a casa de banho pública de uma auto-estrada em declínio, já sem as concessões que num passado recente ainda permitiam uma pausa na viagem para tomar café, sobretudo se longe dos grandes centros urbanos o suficiente para não se transformar num local de engate com preservativos pelo chão, nem num abrigo de vagabundos em que o fumo das fogueiras deixou marca nas paredes. São casas de banho ao cuidado de não se sabe bem quem, pois não chegam a estar muito sujas, e que não aparece assim tantas vezes, pois nunca estão muito limpas.  Por vezes há sinais de um princípio de reconquista da natureza, como uma erva daninha entre ladrilhos mal betumados. Não me peçam exemplos. Retiro de uma única e vaga recordação de um destes lugares toda a verosimilhança para a história seguinte, embora não consiga identificar o país. Pode ter sido na França.

 

 

19
Jun11

Só hoje


Eremita

Even the clerk seemed touched with the awkwardness of Kovalev's plight, and wishful to lighten with a few sympathetic words the Collegiate Assessor's depression.

   “I am sorry indeed that this has befallen,” he said. “Should you care for a pinch of this? Snuff can dissipate both headache and low spirits. Nay, it is good for hemorrhoids as well.”

   And he proffered his box-deftly, as he did so, folding back underneath it the lid depicting a lady in a hat.

   Kovalev lost his last shred of patience at the thoughtless act, and said heatedly:

   “How you can think fit thus to jest I cannot imagine. For surely you perceive me no longer to be in possession of a means of sniffing? Oh, you and your snuff can go to hell! Even the sight of it is more than I can bear. I should say the same even if you were offering me, not wretched birch bark, but real rapée.”  The Nose, Gogol

11
Jun11

Viva a América (II)


Eremita

O que é um bom divulgador de cultura? Toda a gente sabe a resposta: é uma pessoa que faz o inverso daquilo que João Gonçalves faz com os seus posts de Ópera. Gonçalves não divulga, cospe e depois esfrega aquilo a que chama "grandeza" na cara dos seus leitores. Como técnica pedagógica, talvez funcione em certos círculos, mas aposto a mão direita do Judeu em como o blog Portugal dos Pequeninos não formou um único melómano desde que existe.

 

Agora pela positiva. Um bom divulgador de cultura é Michael Silverblatt, do programa de literatura Bookworm. Curiosamente, Bookworm tem um dos genéricos mais irritantes no universo dos podcasts e Silverblatt é um radialista com uma voz que fica ligeiramente aquém de ser uma grande voz, o que desperta a  familiar sensação complexa - admiração e pena, respeito e gozo - que temos perante os projectos quase conseguidos, porém falhados, como o rosto de Javier Barden, que lembra uma estátua grega esmurrada (a imagem não é minha), ou o de Julio Cortázar, que é o de um homem bonito, but not quite. O que faz a diferença, então? Creio que é mesmo o gozo da partilha, que se percebe em Siverblatt. Não é preciso ser de esquerda para fazer grande literatura (______ , _______ e muitos mais), mas talvez seja preciso ser de esquerda  - vá, estiquemos até ao social-democrata  - para divulgar como quem dá um livro em mãos e não na tola. 


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