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OURIQ

Um diário trasladado

OURIQ

Um diário trasladado

31
Dez10

Do fim se faz princípio*


Eremita

 

 

 

 

John Watkiss

 

Acabei o Quijote, mas nos próximos meses é provável que continue a pastar nas suas páginas. Há notas por organizar.

 

Nesta mesma semana, apareceu em Ourique o ensaio de Unamuno e um número da Granta sobre "los mejores of young Spanish narradores". Nada disto acontece por acaso.

 

* Tomo a liberdade de chamar a atenção para a brutal carga polissémica deste título, só para esclarecer que foi por completo acaso que a formulação da ideia de fim-começo também inclui o maquiavélico "os fins justificam os meios".

30
Dez10

Em teoria


Eremita

Pastiche*

 

Gostar de mulheres que gostam de mulheres e que os homens gostem delas pode dar um desgosto maior do que gostar de mulheres que não gostam das mulheres que gostam delas e apenas gostam que as mulheres delas gostem, embora não seja um desgosto tão grande como gostar de uma mulher que não retribui o gosto.

 

* De Feliciano de Silva, o autor citado por Cervantes logo no primeiro capítulo, que escrevia assim: " la razón de la sinrazón que a mi razón se hace, de tal manera mi razón enflaquece, que con razón me quejo de la vuestra fermosura".

30
Dez10

A melhor frase de 2010


Eremita

Spoiler Warning

 

 

 

Há já algum distanciamento histórico para afirmar que, depois a reforma política de Donald Rumsfeld, as melhores frases do ano voltaram à ficção. A de 2010, sem qualquer sombra de dúvida, encontra-se em Due Date. O filme tresanda a Big Lebowski, já quase um odor da infância afectiva, e há até uma cena de lançamento de cinzas. Neste filme, o vento sopra de feição e as cinzas não são de um amigo, mas do pai daquele que as vai lançar. Antes assim, emboa tivesse temido o pior, pois a famosa cena do Lebowski é um combinado de ternura e humor hilariante formalmente impossível de superar. Para alegria de todos, a cena homóloga de Due Date não envergonha, devido à extraordinária frase de abertura:

 

Dad, you've been just like a father to me

 

PS I: Gaspar, o rapaz do Cineclube, detestou o filme e a frase. Não sei até que ponto o definido maxilar de Robert Downey Junior terá influenciado a sua opinião, mas a verdade é que começo a acumular sinais de uma pulsão homoerótica reprimida neste rapaz. Quanto a não ter gostado da frase, lamento ter de ir buscar a sua infância, mas é bem possível que  Gaspar seja habitado por problemas com os progenitores mal resolvidos.

 

PS II: este filme deu-me uma ideia para mais um ensaio, a incluir no primeiro tomo da obra académica do Ouriquense.

 


29
Dez10

Tantas tulipas murchas não serão esquecidas


Eremita

 

 

 

Não sei se concordo. Gonçalo M. Tavares (GMT) parece sempre mergulhar mais fundo do que os outros, mas quem são esses outros? Quem são os seus pares? A resposta a esta pergunta entronca na resposta a uma outra questão: se dermos por adquirido que GMT mergulha mais fundo, será que volta à superfície com a pérola? Por exemplo, o que aprendemos de novo neste ensaio que não se soubesse já? Provavelmente nada. Ou então aprende-se algo, mas que provavelmente está errado. GMT substitui a perspectiva histórica e o conhecimento técnico, que não reclama, por uma descida à essência das coisas, mas que de novo, depois desta primeira vez, me soa a prestidigitação intelectual. Não se trata de aldrabice, antes de uma conversa da treta, aqui entendida como a tradução da bullshit definida por Harry G. Frankfurt no seu famoso ensaio.

 

O que me continua a fascinar nos textos de Gonçalo M. Tavares é uma indefinível autoridade, que talvez resulte da enorme honestidade com que produz tanta treta. E só consigo explicar este paradoxo de uma forma: o que (me) interessa em GMT  - e o que provavelmente lhe interessa a ele - é a sua imaginação. Que a matéria-prima da sua imaginação sejam os conceitos não nos deve levar a avaliá-lo como intelectual, filósofo ou ensaísta, mas como escritor. A resposta à pergunta inicial não é surpreendente: os pares de GMT serão os outros escritores. Mas o que daqui decorre é menos trivial: não se pode destacar Gonçalo M. Tavares dos seus pares pelos seus embrulhos filosofantes. Em última análise, uma avaliação séria da imaginação de GMT é, em si, um difícil exercício de imaginação, que passa por suprimir o efeito ofuscante da  matéria-prima que GMT utiliza, e também por um esforço de abnegação, em que descartamos as suas conclusões ou, no limite, sem mais investir delas desconfiamos; como se ignorássemos o ouro e a esmeralda que o ourives usou e a jóia resultante, para melhor o observar enquanto trabalhava.

 

PS: só voltarei a escrever sobre GMT se entretanto mudar de opinião.

28
Dez10

Uma ilha de prosa atroz


Eremita

Why did a man [Saul Bellow] of such habits also acquire the far more serious, not to say expensive, habit of marriage? Time and again he placed his head, three-quarters profile, a soft Borsolino hat atop it worn at rakish angle, in the domestic lion’s mouth. One might have thought the sinews of his neck would have been cut clean through, or at least the wounds from the teeth marks would have made him more cautious. But after each divorce, with its emotional bruises and financial penalties, Bellow, like a man hit by a bus, got up, shook himself off, and got back on the curb, where he awaited the next bus, the Heartbreak Avenue Express. Daqui

 


28
Dez10

Blogometria


Eremita

Onde também se enunciam os planos de leitura

e a fasquia do número combinado de palavras de prosa de ficção

que definirá um 2011 produtivo.

 

1. A três dias do fim da contagem, creio que apenas métodos berlusconianos poderiam dar a vitória ao Ouriquense neste concurso organizado por lisboetas. Fomos o blog menos votado, mas não me ficaria bem desprezar os 45 adeptos do Ouriquense, sobretudo se foi gente que conseguiu ludibriar e votar uma vez na Morgada e outra nesta casa.

 

 

Feitas as contas, estes 45 votos foram uma surpresa, pois a média de visitas do Ouriquense nos dias úteis fora dos períodos de férias anda pelo redondo 100. Seria preciso uma estatística algo sofisticada para deduzir o número de visitantes fiéis (digamos, os que visitam o Ouriquense pelo menos uma vez a cada três dias), mas creio que não serão mais de 50.

 

 

Visitas em Dezembro de 2010

 

 

 

Se for assim, a percentagem de leitores fiéis ao Ouriquense que preferem este blog a todos os outros que constam da lista a concurso será surpreendentemente alta, mesmo tendo presente que o Ouriquense é claramente um erro de casting, pois aqui não se faz comentário político. Deve portanto haver aqui um erro, mas deixei-me explorar esta conclusão como se fosse José Sócrates.

 

O Ouriquense tem as piores estatísticas de todos os blogs em que já escrevi. Comecei com um blog individual que, sobretudo por ter apanhado a primeira vaga, conseguiu manter-se acima dos 100 visitantes diários durante largos períodos, ao longo de 5 anos. Fundei um blog colectivo que, para blog temático, também teve fases com muitas visitas. Participei num outro blog colectivo e, à boleia de outros, creio que nunca mais gozarei de tantos leitores. Por sorte, houve ainda uma colaboração na imprensa menos conceituada e de grande tiragem, que contribuiu para que a minha conta bancária chegue a zero em Abril de 2011 e não já no mês que se aproxima. Mas por nunca antes ter tido tanto prazer em escrever como aqui, nem a certeza - talvez pateta - de ter desoberto um caminho, agrada-me a ideia de que para umas poucas dezenas de visitantes, ou pelo menos um, a experiência de leitura seja equivalente, sobretudo porque, com tantos textos por acabar e reenvios, dificilmente imaginava alguém alfabetizado com vagar e vontade de entender um enredo a que falta o ritmo do folhetim.

 

2. Os planos de leitura para 2011 são: terminar as notas sobre o Quijote (cuja leitura concluo provavelmente amanhã) e publicar as notas sobre o Guerra e Paz (inglês - audiolivro e livro) e a Recherche (francês, audiolivro e livro). O ano será absolutamente mágico se conseguir ainda publicar notas sobre Catch 22, Pais e Filhos (inglês), Infinite Jest e um Don DeLillo.

 

3. O número mínimo de palavras de ficção que fará de 2011 um ano produtivo é 200 000 (um Crime e Castigo, mais ou menos), dos quais uma metade não pode aparecer no Ouriquense.

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