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OURIQ

Um diário trasladado

OURIQ

Um diário trasladado

05
Mai10

Brevemente


Eremita

série curta-metragem*

 

Moço de Recados [5.5.10]

Ricardo Chibanga

Tatiana

Igor

Jaime

Honório

Emília

Judeu

Libertinas de Lisboa

 

* Guiões para curtas-metragens de elevado orçamento (geralmente pedem gruas, centenas de figurantes, duplos ou actrizes estrangeiras).

05
Mai10

Moço de recados


Eremita

série curta-metragem

A câmara filma o moço de recados a acordar. Percebe-se que é de madrugada pela qualidade da luz e as sombras alongadas, e que é Verão porque o moço dorme de tronco nu e apenas se cobre com um lençol. O lençol é branco, a parede branca, as portadas brancas. O rapaz dá voltas na cama, mudando de posição várias vezes [montar imagens do seu corpo em diferentes posições numa sequência rápida, para passar a impressão de  que muito tempo passou]. Já na cozinha de azulejos brancos, diante do frigorífico branco que acaba de abrir, e ainda em tronco nu, o rapaz bebe leite meio-gordo pelo pacote [esconder a marca] e um fio de leite começa a escorrer-lhe pelo pescoço e pelo tronco, ficando uma gotículas aprisionadas nos pêlos do peito [não insistir demasiado na carga erótica]. O moço veste depois uns calções de banho [filmá-lo da cintura para cima; evitar as nádegas], pega na prancha de surf que estava encostada a uma parede caiada de branco e sai para a rua [saturar a película de luz, encandear o espectador]. O moço monta-se na casal 50 que ficou na família e dirige-se para fora da vila; leva a prancha às costas, como se irrompesse de uma mochila como um tubarão [ponderar se a falta de aerodinamismo transmite uma sensação de imbecilidade]. Sem nunca perder o moço de vista, a câmara mostra imagens da planície de montado durante algum tempo e filma uma placa que indica a distância para uma vila costeira ou perto da costa [Vila Nova de Mil Fontes? Aljezur? Zambujeira do Mar? Talvez esta]. A câmara continua a filmar o rapaz [nova sequência para dar a ilusão de que uma grande distância foi percorrida] e depois foca-o na cara [o cabelo - de surfista dos anos oitenta - acusa o movimento]. Quando o moço se imobiliza [captar bem a transição do barulho da motorizada para a calmaria de um discreto vaivém da água sobre a margem], a câmara afasta-se um pouco e vê-se o rapaz de frente, do peito para cima, com o céu azul ao fundo e nenhum ponto de referência. Vê-se o  rapaz avançar [resoluto] com uma expressão ambígua no rosto, mas fixando o olhar para lá da câmara. Ouve-se o barulho dos seus pés a caminhar e, de repente, a chapinhar. Percebe-se depois pelo movimento do corpo que pousa ele pousa a prancha na água [captar todos estes sons e exagerá-los]. A seguir a câmara faz um movimento de contorcionista, para começar a filmar o rapaz de topo e já o podemos ver deitado sobre a prancha, remando com os braços [o plano de água enche por completo a imagem, não se vendo o céu, nem as margens]. Após algumas braçadas, o rapaz imobiliza-se [fazer com que aproveite toda a inércia até parar] e senta-se sobre a prancha. Continuamos a vê-lo de topo [escolher um actor sem careca no cocuruto] e a câmara começa a subir e a abrir o ângulo. O ângulo abre, abre, vemos a primeira margem a entrar pelo rodapé, mais margem a entrar pelo lado esquerdo [ou o direito, é indiferente], depois pelo outro lado e finalmente por cima. Percebe-se então que o moço de recados não está no mar, mas na barragem do Monte da Rocha.

 

 

 

04
Mai10

Effects of music composed by Mozart and Ligeti on blood pressure and heart rate circadian rhythms in normotensive and hypertensive rats


Eremita

Chronobiol. 2008 Nov;25(6):971-86.


 

O efeito Mozart é um fenómeno de contornos ainda obscuros, que se traduz por uma melhoria no desempenho quando se ouve música (na versão ortodoxa: a música de Mozart). Se não for capaz de escrever um conto a partir daqui até Agosto, regresso a Lisboa em Setembro.

 


03
Mai10

Um arranque engripado


Eremita

 

 

 

Estamos em pleno processo de leitura de A mecânica da Ficção, a tradução portuguesa de How Fiction Works, do crítico James Wood. A razão para ler o livro em português deve-se ao tradutor, que é Rogério Casanova, o nosso sensei. Aliás, segundo a escala Vasco Graça Moura, um parâmetro que mede a importância do tradutor segundo uma fórmula complexa que quantifica o rácio do tamanho de letra dos nomes de autor e tradutor, bem como a posição relativa de ambos na capa, Casanova estreia-se com um auspicioso 0.25 (o máximo matemático é 1, embora haja relatos apócrifos de que Vasco Graça Moura tem uma edição com um score de 1.3). Isto só pode significar que Casanova começa a ser o sensei de muita gente, o que é positivo.

 

Até ao momento (página 25), retiro duas conclusões. A primeira: em português consigo velocidades de leitura estonteantes; só agora me dou conta de que a decisão de ler no original toda a ficção publicada originalmente em inglês, francês e castelhano terá um impacto negativo no número de obras que terei tempo de terminar em vida. A segunda: James Wood faz aquele truque fácil de caricaturar os tiques dos académicos para ganhar a simpatia dos leitores (isto a propósito das notas de rodapé). Infelizmente, Wood também parece querer evitar algo em que os académicos são particularmente cuidadosos: honrar os antecessores. A ideia que Wood quer passar  - a de que há poucos livros como o que ele escreveu - é falsa. Para a defender, o autor refere-se apenas a Forster, Kundera, Shklovsky e Barthes, arrumando o primeiro com o comentário de que Aspects of the Novel está datado, o segundo por ser sobretudo um romancista e não um crítico e os dois últimos por não escreverem para o "grande público". Francamente, como diria Lebowski: "Yeah, well, you know, that's just, like, your opinion, man". Mais irritante ainda é reparar nos autores que ficam de fora. Até eu, que não domino esta literatura, me consigo lembrar logo de dois livros: On becoming a novelist, de John Gardner, e The Art of Fiction, de David Lodge. Outros haverá , entre o largo espectro que vai das recomendações de Stephen King sobre a mobília a ter na sala onde se escreve à mais críptica refutação do pós-estruturalismo pela defesa de que o autor, afinal, estava escondido na lombada e não chegou a morrer.

 

 

02
Mai10

As influências literárias


Eremita

O projecto secreto do Ouriquense vai crescendo: temos cerca de 6 páginas, uma grande ideia e um primeiro capítulo completamente esboçado, com um arranque já expurgado de qualquer conclusão pré-sintética e um fim de capítulo simultaneamente surpreendente, terno e bizarro. Aliás, creio mesmo poder vir a arriscar um registo tributário de Comunidade, de Luiz Pacheco, para poder juntar desconforto à surpresa, ternura e bizarria. Como não tenho essa obra de Pacheco em Ourique, descobri uma verdadeira maravilha. Tentem não fazer dinheiro com isto.

 

Estendo o pé e toco com o calcanhar numa bochecha de carne macia e morna; viro-me para o lado esquerdo, de costas para a luz do candeeiro; e bafeja-me um hálito calmo e suave; faço um gesto ao acaso no escuro e a mão, involuntária tenaz de dedos, pulso, sangue latejante, descai-me sobre um seio morno nu ou numa cabecita de bebé, com um tufo de penugem preta no cocuruto da careca, a moleirinha latejante; respiramos na boca uns dos outros, trocamos pernas e braços, bafos suor unscom os outros, uns pelos outros, tão conchegados, tão embrulhados e enleados num mesmo calor como se as nossasveias e artérias transportassem o mesmo sangue girando, palpitassem compassadamente silenciosamente duma igual vivificante seiva.   Luiz Pacheco

 

 

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