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OURIQ

Um diário trasladado

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06
Mar10

Dactilografia


Eremita

Curiosidades do mundo da tecnologia

 

As máquinas de escrever e os teclados de computador, seus descendentes naturais, têm uma disposição de teclas que não é a mais eficiente. Se mudássemos a posição das letras de acordo com critérios conhecidos, seria possível ensinar uma nova geração a escrever ao teclado mais depressa do que nós escrevemos hoje. Porquê?

 

Quando se aprende a dactilografar, há uma tendência para se ir escrevendo cada vez mais depressa, até se atingir um limite definido pelo treino  e pelas nossas capacidades físicas e mentais. Nos primórdios das máquinas de escrever, limitações mecânicas desaconselhavam débitos de palavras por minuto muito elevados, porque as agulhas não conseguiam recuar com  a rapidez necessária para evitar que ficassem encravadas umas nas outras. Mas como não se pode pedir a um indivíduo que modere a sua tendência para a execução rápida, a solução encontrada foi arranjar as letras de um modo que dificultasse a dactilografia, maximizando-se a eficiência dactilográfica pelo paradoxal efeito propositadamente dificultar o débito de palavras. Com o passar dos anos, a mecânica possibilitou um aumento da velocidade máxima, mas o teclado não se modificou porque a tradição é muito forte. Assim, os actuais teclados são um anacronismo do tempo em que a mecânica das máquinas de escrever não era compatível com velocidades de dactilografia muito altas. 

 

Ler uma pessoa muito nova e muito inteligente é como observar uma experiente secretária que tivesse aprendido a escrever numa máquina antiga com a disposição de teclas optimizada para a velocidade mais rápida possível. Percebe-se o génio da pessoa nova mas repara-se antes na segurança com que anuncia as suas reflexões, como se a Terra não tivesse até então sido habitada por alguém capaz de tais raciocínios. Percebe-se também o virtuosismo da dactilógrafa, mas o texto sai cheio de borrões e emendas porque as agulhas estão sempre a encravar-se. Em teoria, há duas soluções possíveis. A  pessoa nova muito inteligente poderia mostrar-se mais modesta e a dactilógrafa poderia abrandar voluntariamente a sua velocidade máxima, mas na prática esta solução não funciona.  O que funciona mesmo é a artrose e o envelhecimento, respectivamente.. 

05
Mar10

Por esta é que merece um processo


Eremita

A culpa é do Dr. House, seguramente, mas será que algum amigo  do jornalista e etc. João Miguel Tavares (Governo Sombra, TSF, hoje) lhe pode explicar que "addiction" em português se diz "dependência" ou "vício" e que "adição" é outra coisa? Se Vasco Graça Moura souber desta é  AVC pela certa. Quantos jovens terá João Miguel Tavares deseducado hoje? Preciso de uma bebida.

 

 

05
Mar10

Partida e Chegada


Eremita

 

O que faz mesmo falta aqui é uma rede de transportes públicos. Mas Ourique é uma vila órfã de Odorico Paraguaçu, o que me entristece. Se ter um excêntrico à frente dos destinos de um país seria trágico, o desaparecimento dos autarcas excêntricos será empobrecedor. A geografia cultural também se faz à custa das idiossincrasias dos localmente poderosos. Aliás, com tantas normas, directivas, o monopólio da telha e o aumento de um nível de vida que concomitantemente normaliza os anseios, as vilas e aldeias tendem para a homogeneidade e serão daqui a 200 anos manchas isoladas de um mesmo bairro interrompido por zonas despovoadas. Esta tendência contraria-se de duas formas. A forma institucional é a promoção dos características regionais que o tempo criou, da arquitectura à gastronomia - falamos, no fundo, da defesa do património. A segunda forma é a promoção de novas especificidades regionais. Ora, a melhor fonte de diversidade ainda é a cabeça dos indivíduos. Daí a necessidade de dar poder aos autarcas. Um poder absoluto, centralizado num único indivíduo e sem conselho, comissão ou oposição que lhe seque a veia criativa.  Sim, agora que deixei de votar e não me sinto com grandes obrigações de cidadania, posso confessar que gostaria de ter  em Ourique um tiranete com ideias megalómanas. Talvez seja essa a única forma de se construir aqui uma linha de metropolitano com duas únicas paragens: chegada e partida. É que de todos os rostos anónimos que fui observando, só tenho mesmo saudades de alguns rostos vistos nos transportes públicos. Não é a lei dos grandes números que explica esta impressão. Há uma qualidade específica  dos rostos nos transportes públicos que não encontramos em mais nenhum lugar ou circunstância. É só isso que falta a Ourique. 

04
Mar10

“Man, 46. Animal in bed. Probably a gnu.”


Eremita

Noutra vida e noutro lugar, cedi às facilidades do chamado online dating. Refiro-me ao online dating a sério, um tipo de serviço que ocupa uma posição intermédia entre o seu substituto socialmente tolerado, o Facebook, e as páginas de facilitação da promiscuidade. Sobre o primeiro, tem a vantagem de ser menos hipócrita; sobre o segundo, tem a vantagem de não propagar tão bem as doenças sexualmente transmissíveis. Conheci pessoas interessantes e pessoas burras, pessoas decentes e gente sem nível. A única diferença em relação a outras formas de socialização - como o "sair à noite", os jantares e as festas - é que tudo acontece muito mais depressa. Pela minha experiência, todas as restantes apreciações negativas que fui ouvindo são imprecisas e, provavelmente, mentirosas. Percebi ainda, aos poucos, que o online dating é mais estigmatizado em Portugal do que noutros lugares. Mas a verdade é que escrever o chamado profile  num site de online dating me pareceu sempre menos ridículo, mais genuíno e mais divertido do que escrever uma carta de motivação. Talvez isso fosse já um sinal de que me iria despedir, pois não nos devemos sentir ridículos a escrever uma carta de motivação, e também de que deixaria de frequentar o online dating, pois não nos devemos divertir tanto.

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