A Granta que acabo de receber tem um desenho de Chicago na capa. Um dos 100 dias mais importantes da minha vida foi passado em Chicago. Quando, daqui a uns 30 anos, estiver a escrever as memórias, a estrutura do livro será feita de uma sucessão de dias. Um dia em Chicago, Um dia nas Corridas (Nova Iorque), Um dia nos cinemas de Montparnasse (Paris), Um dia no Pico (Açores), Um dia nos jardins da Cité U (Paris), Um dia em Albuquerque (EUA), Um dia na Costa da Caparica, etc. Ainda preciso de investir algum tempo nesta selecção, mas o que parece saltar à vista é a exclusão dos dias que marcaram o princípio ou o fim das relações e dos dias em que morreram familiares ou amigos. Isto não significa que tais eventos não foram relevantes, mas apenas que essa relevância foi indexada à pessoa envolvida e não à data. Aliás, guardo desses dias lembranças muito imprecisas. Por outro lado, seria hipócrita não reconhecer que o denominador comum aos dias seleccionados é uma enorme porção de tempo passado a sós.