Les filles minces
Eremita
Sem troca de dinheiro não teria uma relação física com Tatiana. Pago-lhe sempre em espécie e nunca o preço certo. Despedimo-nos cordialmente, sem intimidades. Há meses que esta rotina se repete e só tenho um capricho: obrigo-a sempre a devolver-me o troco em moedas. Com uma nota é possível guardar alguma distância, basta pegar-lhe por uma das pontas, dobrá-la ligeiramente na orientação longitudinal, para que não se quebre e se projecte o máximo possível. Quem recebe a nota saberá então que deve pegar nela pela outra ponta. Mas com uma moeda os dedos tocam nos dedos, ou na palma aberta, ou a moeda cai e no mergulho das mãos dei comigo a sentir o pulso de Tatiana, um pulso tão fino que senti pela primeira vez a sua magreza e, como um cego, logo reconstruí aquele corpo até então escondido por uma bata e uma profissão mais compatível com a robustez física das operárias. Tatiana é tão frágil que as recorrentes imagens de cenas íntimas dela com Igor parecem-se agora com spots contra a violência doméstica. Mas nasceu também o desejo de eliminar as banais raparigas pulpeuses das fantasias sexuais. Uma fantasia menos banal. Uma paixão menos banal. Ainda bem que o francês não está morto, pois nenhuma outra língua faz justiça às filles minces.