Até hoje, só uma outra pessoa no mundo lusófono info-incluído se havia lembrado desta expressão, que me parece tão apropriada a tantas pessoas: "iminente eminência". A variante "eminente iminência", ainda apropriada a algumas circunstâncias, foi também utilizada pela mesma pessoa. O texto é este e o seu autor o grande Veríssimo. Esta descoberta encheu-me de orgulho, porque eu fui a segunda pessoa no mundo lusófono a ter a mesma ideia e perder para Veríssimo é sempre uma vitória pessoal. Mas mergulhemos um pouco mais.
Na verdade, depois de um esforço de memória, chego à conclusão que já tinha lido a crónica de Veríssimo, só que ao inventar "iminente eminência" me esqueci praticamente da fonte original. O advérbio conta. Devia haver um ténue fio a ligar a minha invenção à crónica de Veríssimo, caso contrário não teria usado o Google para sondar o espaço lusófono, mas disso só me apercebi a posteriori. Este incidente faz com que o Google, na qualidade de auxiliar de memória, ascenda a um patamar superior. No decorrer de uma pesquisa, o Google regorgita uma informação recalcada. A pesquisa transformou-se em auto-análise. Nunca o Google havia antes funcionado como uma verdadeira extensão do meu cérebro, nem mesmo quando com ele partilho o que de mais inconfessável se passeia por este meu órgão. Apetece-me começar a tratar o Google por Hal.
As implicações deste episódio são tremendas. Cada um dispõe hoje de um método rápido para sondar a originalidade de qualquer expressão que julgue ter inventado. Isto não constitui uma obrigação moral, porque não se trata aqui de fazer uma purga que nos livre de eventuais acusações de plágio, o que seria ligeiramente paranóico. Trata-se apenas de atomizar um texto e procurar as referências internas que o produziram... Uma bibliografia do cérebro. Com alguma sabedoria, seria possível montar uma empresa que fornecesse ao cliente esta espécie de árvore genealógica do pensamento num suporte informático com design impecável e janelinhas dentro de janelinhas, como matrioskas. O problema é que os intelectuais são uns pelintras e não há mercado para isto, mas seria mais estimulante enriquecer assim do que vencer Américo Amorim e o seu império da rolha no terreno deste. E quem o afirma tem o sobreiro como a mais nobre das árvores, faço notar.