Sageza minoritária
Eremita
Ontem de tarde fui ler a Cartuxa para a praça D. Dinis. Por volta da página 97 chegou um grupo de ciganos, duas mães e uns 7 filhos, dos 2 aos 16 anos. Uma das mães tinha um falar que era alentejano, mas rematava as frases com a acentuação tónica na última sílaba, que terminava também uns tons acima e por isso fazia da sua fala um contínuo lamento, ainda que parecesse bem disposta. Não posso precisar, mas creio que comecei a dormitar por volta da página 101. Acordei pouco tempo depois, não sei se ainda na mesma página, com a exclamação de um dos miúdos, provavelmente analfabeto, mas que viu o que a minha mãe, os meus amigos, as pessoas em geral e até professores universitários nunca conseguiram captar: "mãe, ele está a ler e a dormir". Trocámos cumplicidade e o miúdo ficou a olhar para mim quando retomei essa tarefa tão mais banal que é ler desperto.