As influências literárias
Eremita
O projecto secreto do Ouriquense vai crescendo: temos cerca de 6 páginas, uma grande ideia e um primeiro capítulo completamente esboçado, com um arranque já expurgado de qualquer conclusão pré-sintética e um fim de capítulo simultaneamente surpreendente, terno e bizarro. Aliás, creio mesmo poder vir a arriscar um registo tributário de Comunidade, de Luiz Pacheco, para poder juntar desconforto à surpresa, ternura e bizarria. Como não tenho essa obra de Pacheco em Ourique, descobri uma verdadeira maravilha. Tentem não fazer dinheiro com isto.
Estendo o pé e toco com o calcanhar numa bochecha de carne macia e morna; viro-me para o lado esquerdo, de costas para a luz do candeeiro; e bafeja-me um hálito calmo e suave; faço um gesto ao acaso no escuro e a mão, involuntária tenaz de dedos, pulso, sangue latejante, descai-me sobre um seio morno nu ou numa cabecita de bebé, com um tufo de penugem preta no cocuruto da careca, a moleirinha latejante; respiramos na boca uns dos outros, trocamos pernas e braços, bafos suor unscom os outros, uns pelos outros, tão conchegados, tão embrulhados e enleados num mesmo calor como se as nossasveias e artérias transportassem o mesmo sangue girando, palpitassem compassadamente silenciosamente duma igual vivificante seiva. Luiz Pacheco