Nova personagem: Adriano
Eremita
Depois de Pessoa, todos os heterónimos são ridículos. Por isso, o poeta, mais do que qualquer outra pessoa, trouxe legitimidade e pertinência às personagens. Arranje-se pois uma outra personagem para responder à necessidade de uma voz nova. Ainda pensei em usar Jaime, bato-me aqui pela economia, mas seria uma incoerência. Se é certo que Jaime tem margem de progressão, faz mais sentido que evolua para um idiot savant, com uma memória fotográfica irrepreensível mas limitado em tudo o resto. Ele serve sobretudo para me ligar à capital, pelo telefone, e não para me ligar às profundezas da condição humana (desculpem). Por isso inventei Adriano, que será também filho do judeu. Adriano é intragável como indivíduo - e talvez mesmo como repasto para canibal, pois tem uma tez amarelada. Dá-se mal com o judeu, mas como estão a tentar uma reaproximação começámos a jantar os três com alguma regularidade. Reparei que ele se expressa sempre em prosa poética.