Há pessoas que cumprimentamos sempre e pessoas que nunca cumprimentamos. Trivial. Mas há também pessoas que cumprimentamos ou não em função do contexto. Reconhecê-lo não é uma admissão de hipocrisia ou de cobardia. Evitar certas pessoas em certos contextos pode ser um acto de altruísmo (quando não se quer complicar a vida do outro) ou de modéstia (quando se pensa que o outro não se lembra de nós), ainda que sempre assente num infundado optimismo (por implicar pensar que ninguém nos viu). Estas são situações exclusivas das grandes metrópoles e impensáveis em Ourique. Não que falte por aqui a complexidade arquitectónica e vivencial para gerar tais contextos - raios, temos cafés e esquinas. O que distingue Ourique é a pequenez da sua teia social. Aqui ninguém se pode dar ao luxo de decidir um cumprimento em função do momento, sob pena de transmitir uma vibração que se propagaria por toda a parte e chegaria a todos, inclusive à aranha capaz de o devorar.