O Semanário
Eremita
Encontra um colega na calçada, cumprimentam-se e antes a despedida fala-lhe do jornal do dia, conta-lhe as novidades: "Mas ele voltou a escrever?" No almoço com os amigos, a mesma surpresa, multiplicada por seis. Fica na dúvida, dirige-se a um quiosque, abre um exemplar do jornal, o homem do quiosque refila, ele paga, acende um cigarro, não encontra a crónica. Passa-se uma semana, novo sábado, o homem entra no café, outro café, outro cigarro, nova edição do semanário, perplexidade: uma fotografia na primeira página mostra a praça que ele contempla, mas em ruínas. Fora um terramoto. Olha então para os lados com um sorriso nervoso, joga a mão a um outro jornal, deixado sobre outra mesa. Desilude-se: era um semanário desportivo. Volta ao seu jornal, confere a data. Nova surpresa: a data era futura, precisamente daí a uma semana.
Guarda segredo até terça-feira, é internado à quarta, enlouquece mesmo à quinta e na sexta despacham-no para um asilo longe da cidade. No sábado morrem metade dos habitantes da cidade. Fora um terramoto. O homem recupera ao fim de uns meses e recomeça a vida noutra cidade. Novo sábado, novo café, outro cigarro, o jornal sobre a mesa, mas agora virado para um rapaz, a quem ele paga para que leia as notícias em voz alta, depois de confir a data no cabeçalho.