Regresso ao cineclube
Eremita
Uma resolução de fim de ano do rapaz do cineclube foi voltar ao saque de filmes em Lisboa. Este jovem fez uma depressão há umas semanas, quando lhe sugeriram que seria mais simples recorrer ao download de filmes. Alguns pensaram que ele se viu sem projecto de vida e por isso se deixou abater, mas outros - como eu - ainda defendem que o miúdo fraquejou por se sentir incompreendido. Não perceber que é pelo esforço investido no saque das imagens um filme numa qualquer sala da capital que as sessões do cineclube ganham sentido é reger-se por um pragmatismo absurdo. Suspeito que esta tecnocracia aplicada às horas vagas, que faz de um cobarde e preguiçoso download uma solução ideal, foi ideia de uma das libertinas. Estas gajas ainda não perceberam que o cineclube é uma célula de activismo cultural contra a hegemonia da capital. O rapaz não anda a pôr bombas no Monumental porque é um moderado e tem familiares lisboetas, mas roubar as imagens que são projectadas na capital e oferecê-las de borla aos ouriquenses, na mesma semana em que estreiam em Portugal, é o seu manifesto.
Ontem vimos o Un Prophète. A sensação que experimentei foi absolutamente nova. Havia familiaridade misturada com supresa, como se passasse por um déjà-vu irrecuperável. Só no fim percebi, quando uma das libertinas passou por mim e me disse que sou parecido com Malik, o delinquente que é personagem principal. Tem só alguma razão, mas é a primeira vez que reconheço alguma parecença com um actor. Escusava era de o ter sussurrado ao ouvido.