Fibonacci
Eremita
Seria ridículo dramatizar uma tampa em concreto. A tampa é apenas uma pequeníssima morte, muito menos terrível que as mortes em vida por falhas morais. Sucede que, por ser sensível a uma lógica de perdas e ganhos, a tampa depende do contexto e, nomeadamente, do historial de tampas. Uma sucessão de tampas é capaz de sentenciar um homem ao círculo vicioso da tampa, em que a última parece transportar todas as outras, ou então avivar a memória das - digamos - duas mais recentes, como se as combinasse. Neste último caso, escolhido para facilitar a exposição, mas generalizável, a intensidade da tampa cresce de uma forma avassaladora que é descrita pela sequência de Fibonacci. Antes da tampa, o indivíduo está no grau 0, com a primeira tampa passa ao grau 1, com a segunda mantém-se no grau 1, mas à terceira passa ao grau 2, depois ao 3, ao 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144... Para anular a série no momento em que a interrompo e restaurar o indivíduo, seria preciso uma vitória - ou a última de uma série - com uma intensidade que somasse os dois últimos graus (89+144). Infelizmente, apesar de esta série de ser recorrente na natureza, em certos indivíduos apenas as derrotas vão sendo registadas da maneira que Fibonacci descreveu. Os corolários são inevitáveis: 1) qualquer tampa, ainda que insignificante na sua essência, pode ser a derradeira; 2) nenhuma série de vitórias, ainda que extensíssima, afastará destes indivíduos o espectro do ciclo vicioso da tampa.