Apologia do telegrama
Eremita
A humanidade é bastante imperfeita, mas as mulheres são menos imperfeitas do que os homens. Os homens tendem a adiar o confronto. As mulheres tendem a recorrer ao telefone para divulgar as más notícias. Este arranque, que parece saído da Cosmopolitan, na verdade assenta numa experiência de vida. Viva Ourique e o telegrama. Em síntese, era isto. Mas deixo ainda uma nota final de ordem prática. É aconselhável ter sempre o telemóvel com pouca bateria. As conversas longas são invariavelmente conversas que não desejamos ter e interrompê-las por razões de ordem técnica é um luxo. Quem está a ficar desesperado, ou a perder a paciência, ou profundamente triste, ou surpreendido pela sua apatia, ou prestes a explodir, pode esconder o que sente e salvar-se, anunciando: "olha, vou ficar sem bateria". Depois o telefone morre, como que a reforçar uma ordem natural das coisas. Trata-se de um acidente forjado, claro, mas na altura não se dá por isso e daí virá algum conforto.