Maik e Rosy
Eremita
Na sexta fui ver Maik e Rosy ao cineteatro. Estava menos de meia casa, mas Maik é um bom mágico. Não consegui adivinhar-lhe um único truque, excepto quando fez aparecer pombas, porque é difícil reduzi-las a duas dimensões sem pinga de sangue. Rosy é uma partenaire triste, o que acaba por beneficiar o espectáculo. Imagino-os casados. Quis o acaso que Maik me chamasse ao palco e na minha apresentação pública à vila tive um segundo de hesitação antes de inventar um nome falso. Se excluirmos a progressiva degenerescência da minha assinatura, foi a primeira vez que acusei um problema com a identidade e pergunto-me se não terá sido um turning point. Veremos. Maik perorou a seguir sobre a diferença entre iludir com truques e iludir por sugestão. Se o percebi bem, no truque temos a nítida noção de que estamos a ser enganados e na sugestão o engano é tão profundo que seríamos capazes de jurar pela acuidade dos nossos sentidos. A distinção vale para o ilusionismo, para a ficção, enfim, para a vida em geral.
Ao palco subiu comigo uma rapariga ucraniana. Chama-se Tatiana, admitindo que não fez como eu. Pareceu-me muito tímida. Não olhou para a plateia, nem para Maik, nem para mim, apenas para Rosy, que não chegou a retribuir-lhe o sorriso. Quem sorriu muito foi o homem para junto de quem Tatiana voltou. Maik, um animal de palco, topou o óbvio e dois números volvidos estava a chamar esse homem ao palco. Apesar de não falar português tão bem como Tatiana, mostrou grande à-vontade e tentou até uma piada. Chama-se Igor - ainda disse o apelido, que me escapou. Creio que também Tatiana e Igor estão casados.