Violência doméstica: dar a outra face
Eremita
Há uns meses, testemunhei em favor de um acusado de violência doméstica. Ontem, soube que um amigo foi acusado de violência pela mulher. Têm vários filhos e estão juntos há uns vinte anos; lembro-me que o dia do casamento deles foi muito bonito para todos nós. Ao que parece, as "provas" andavam a ser acumuladas há dois anos. Como não cheguei a estreitar relações com quem acusa, que nunca perdeu o estatuto redutor de mulher do meu amigo, sei que me falta objectividade para apreciar o caso. Entre a completa invenção de alguém sem escrúpulos e o relato exacto de uma vítima destroçada, há um espectro complexo de cenários possíveis, cada qual sujeito a interpretações divergentes. Torço pelo meu amigo, com a esperança de que, a ter havido violência, não passou de um raro safanão ou apertão no braço em duas décadas de vida doméstica.
As campanhas contra a violência doméstica e o facto de ter passado a crime público são progressos civilizacionais que não resolveram o problema. O número de mulheres todos os anos assassinadas pelos seus companheiros e os resultados de inquéritos sobre o comportamento dos jovens namorados são ainda assustadores. É preciso que a violência doméstica ganhe o estigma de comportamento absolutamente intolerável e vergonhoso, uma evolução que, por causa da componente passional, se afigura mais lenta do que aquela por que passou nas últimas décadas a pedofilia. É preciso também que estejamos atentos ao modo como, ao longo dos anos, a interpretação da lei feita pelos juízes vai sendo feita e se vai mudando a frequência de acusações sem fundamento. É natural que, numa longuíssima primeira fase, ainda que em teoria todos os cidadãos sejam inocentes até prova em contrário, os homens sejam os suspeitos do costume, com toda a interferência na objectividade que esta evidência estatística acarreta, porque eles são efectivamente são os suspeitos do costume. Entretanto, o que pode um homem fazer? Não bater. Não bater nunca. Não bater na mulher, como não se bate num bebé, isto é, reconhecer e interiorizar a assimetria de género que existe nesta matéria, que tem bases biolóicas e sociais, por muito que a sociedade nos diga que as mulheres e os homens são iguais. Não são. A mulher pode dar uma chapada. Ao homem resta oferecer a outra face ou abortar a discussão e fugir. Poderá não o fazer com uma ética de convicção, mas é a ética de responsabilidade que, contra a opinião de marialvas, progressistas e líricos, se recomenda aqui de Ourique.