És mesmo um pequeno e previsível aldrabão, Valupi. Estavas convencido de que eu iria pegar na história da fortuna, por ser a mais batida e a que dá título ao artigo. Mas como te conheço as manhas, fiz outra pergunta, caso contrário já sabia que iríamos acabar a discutir o que é uma "fortuna" e, dada a ambiguidade do conceito de "classe média" neste país, seria uma perda de tempo. Ora, quando finalmente percebeste que me tresleras (dou sempre o benefício da dúvida) e te viste obrigado a responder à verdadeira pergunta, sentiste logo necessidade de frisar que eu não tinha lido o artigo, o que é - tecnicamente - uma calúnia. Isto seria apenas cómico, vindo do homem que luta contra os "profissionais da calúnia", não se desse o caso de dares também mostras de um pensamento desconexo, o que é trágico.
Quando te fiz a pergunta, escrevi: "Segundo a investigação de José António Cerejo, no Público, a mãe de Sócrates, na altura da entrevista de Sócrates ao Expresso, tinha um modesto rés-do-chão em Cascais, uma arrecadação em Setúbal e uma terça parte de uma casa na sua aldeia natal, em Trás-os-Montes. " Não acrescentei mais nada porque se tratava de confrontar a afirmação de Sócrates, isto é, que a mãe, na altura da entrevista, não sabia ainda o que fazer com tanto prédio e andar, com a realidade (o património da senhora estava reduzido a um modesto rés-do-chão em Cascais, uma arrecadação em Setúbal e uma terça parte de uma casa na sua aldeia natal). Percebes o problema de lógica, Valupi? Não me podes acusar de não ter incluído a informação relevante para a pergunta que tu pensavas que eu te iria fazer, sendo outra a pergunta. Para que percebas melhor: a minha pergunta ainda faria sentido se eu não tivesse lido o artigo e ignorasse que o património da mãe de Sócrates já tinha sido maior. Gastas depois algum tempo a explicar-me que função cumpre no texto de Cerejo a comparação entre o que Sócrates disse e o património de sua mãe à época, o que é mais um caso de “Valupisplaining”.
Enfim, pelo menos respondeste, afirmando que a minha interpretação é “difamante”, pelo que só posso concluir que, para ti, Sócrates não mentiu naquela passagem. É extraordinário. Ao contrário do que sugeres, Cerejo também viu a mentira e, claro, a “intenção manipuladora” (um eufemismo para “mentira”), como se percebe da leitura do artigo dele; até Clara Ferreira Alves, na altura da entrevista uma entusiasta de Sócrates, viria a reconhecer que foi enganada por ele, nomeadamente no que toca à fortuna da mãe*. O mesmo pensará qualquer pessoa alfabetizada que não tenha a sua reputação indexada ao futuro de Sócrates.
Se quiseres, continuamos, pois isto até começa a ser divertido. Queres mesmo discutir a "fortuna"? É que mete contas de somar e conceitos aborrecidos como o direito das sucessões e nunca foi minha intenção brincar nos blogs ao julgamento de Sócrates ou discutir a Operação Marquês. Queres que te apresente mais uma mentira de Sócrates, para ver se te sais melhor? Ou queres discutir a tua tese estruturante de que a Operação Marquês prejudicou o PS nas eleições de 2015? Este é o tema mais interessante e o único potencialmente enriquecedor, pois em relação às mentiras de Sócrates e aos indícios que me fazem duvidar dele já se percebeu que não há condições para progredirmos.
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http://leitor.expresso.pt/#library/expresso/semanario2346/revista-e/pluma-caprichosa/o-julgamento-de-socrates