Um argumento a favor de Sócrates
Eremita
Se a defesa de Sócrates vai cobrar 750 000* euros, já deve ter este artigo na sua base de dados, mas aqui fica o resumo:
Mental accounting posits that people track their expenditures using cognitive categories or “mental accounts.” The authors propose that this cognitive process can be complemented by an approach that examines how feelings about a sum of money, or the money's “affective tag,” influence its consumption. When people receive money under negative circumstances, this tag can include a negative affect component, which people aim to reduce by engaging in strategic consumption. The authors investigate two such strategies, laundering and hedonic avoidance, and demonstrate their effect on consumption of windfalls. The authors find that people avoid spending their negatively tagged money on hedonic expenditures and prefer to make utilitarian or virtuous expenditures to reduce, or “launder,” their negative feelings about the windfall. The authors call this tagging process and strategic consumption “emotional accounting.”
Tendo em conta a natureza profundamente hedonista dos gastos de Sócrates (excluindo as ajudas que deu a algumas pessoas), eis um trunfo para a defesa. Sócrates terá sido tão egoísta que o dinheiro não podia estar manchado pelo crime, pois até os malandros têm escrúpulos ao gastar o que roubam. Deste argumento nem o Valupi se tinha ainda lembrado, creio. Nem o Valupi, nem as televisões, que continuam a mungir a teta sem a menor criatividade. Sara Antunes de Oliveira, aponta aí: se já vale tudo em nome do "interesse público", isto é, mostrar imagens sem informação adicional, mas que permitem ao telespectador avaliar a "voz e postura corporal do arguidos", ao menos que uses o caso Sócrates para educar o povo sobre o valor emocional do dinheiro. Aproveitavas ainda para fazer algum serviço público pela literacia científica dos portugueses, já que são tantos e tão fascinantes os estudos de economia e psicologia sobre o tema. Dava até para uma série com várias temporadas e ficaria ao preço da uva mijona, mais barata que as tertúlias sobre bola, pois os académicos não cobram nada para aparecer na TV, e sem qualquer perigo de confusão com o que se faz na CMtv, pois todo o painel seria composto por doutorados, obviamente - a SIC só faz jornalismo de referência. Mas podemos pensar ainda mais alto: durante o programa, porias online e em tempo real, para os telespectadores participarem, aqueles jogos sobre teoria da tomada de decisão ricos em dilemas morais e como onde há um jogo há sempre um patrocinador, o pitch junto de Ricardo Costa (que aqui se defende) e de Pinto Balsemão seria canja.