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OURIQ

Um diário trasladado

OURIQ

Um diário trasladado

03
Abr10

Recomeço


Eremita

Encontrei o Pais e Filhos. Estava perto do marco geodésico e ainda se pode ler, embora tenha dois dos cantos tingidos de lama. É a primeira vez na vida que encontro um livro que perdera e vejo nisto o augúrio de bonança possível. Vamos retomar a leitura. 

20
Jan10

Pais e filhos


Eremita

 

O problema de grande parte das ideias engraçadas é que existe sempre alguém mais capaz de as realizar. Este fardo de lucidez induz uma enorme frustração. A ideia engraçada, que deveríamos festejar como uma manifestação de criatividade, num instante se transforma num pretexto para a melancolia. A ideia que tive foi partilhar  Pais e Filhos (que passarei a designar por Fathers and Sons, por andar a ler a tradução de Rchard Freeborn, da Oxford World's Classics) no estilo "minuto a minuto", a forma de relatar desafios de futebol que a internet popularizou. Neste caso seria uma leitura página a página, mas que não tivesse a pretensão do close reading e fosse até pretexto para a dispersão. Ocorreu-me depois que o modelo "minuto a minuto" posto em prática por literatos  é que faria todo o sentido. Se imagino um "minuto a minuto" sobre os grandes clássicos, feito por Vasco Graça Moura, Abel Barros Baptista ou Mega Ferreira, só para irritar alguns, materializa-se logo na minha cabeça um blogue de grande qualidade, para verter em livro por altura do Natal, com aquela combinação comercialmente apelativa de erudição e "irreverência".  Enfim, o meu "minuto a minuto" seria coisa de amador e não o farei. 

 

Fathers and Sons só começa a cativar à segunda página:

 

In the meantime, Nikolai Petrovich succeeded, even in he lifetime of his parents and to their no small distress, in falling in love with the daughter of an official called Prepolovensky, the previous owner of his apartment, an attractive and, as they say, well-developed girl who used to read serious articles in the "Science" sections of journals.  Cap I, pág 2

 

Este "succeeded" carrega a citação às costas. Mas vejamos a tradução de Constance Garnett, que parece ser a grande referência. 

 

Meanwhile Nikolai Petrovitch had already, in his parents' lifetime and to their no slight chagrin, had time to fall in love with the daughter of his landlord, a petty official, Prepolovensky. She was a pretty and, as it is called, 'advanced' girl; she used to read the serious articles in the 'Science' column of the journals. 

 

A versão de Freeborn é incomparavelmente superior. Tem o precioso "succeeded" e flui com um ponto final e um ponto-e-vírgula a menos. É como se Freeborn fizesse este buraco com uma pancada e meia abaixo do par. Creio pois que escolhi a tradução não agradável (não existe online), o que não quer dizer que seja a melhor. 

 

De resto, até à página 14, no big news. Percebe-se já a tensão entre o niilista Bazarov e Nikolai Petrovich, e prevejo que o filho de Petrovich, Arkady, vá tentar uma mediação impossível - o que me diz alguma coisa. Confirmo também que vou ter imensos problemas com os  nomes: Nikolai Petrovich Kirsanov, Agafokleya Kuzminishna Kirsanov, Ilya Kolyazin, Arkady, Evgeny Vasilev Bazarov, Pavel Petrovich Kirsanov... Este sempre foi o meu maior problema com a literatura russa. Pondero a elaboração de uma tabela em que latinizo os nomes de todas as personagens. 

 

 

18
Jan10

Utopias


Eremita

Terminei a Utopia. Um grande livro. A dada altura, defende-se algo que hoje seria designado por terrorismo de Estado. Só é pena terminar com o tópico da religião. Naturalmente, a religião na Utopia não pode ser muito diferente daquilo que a religião é noutros lugares. Foi um final algo frustrante para tamanho festival de imaginação.

 

Sigo de imediato para Pais e Filhos, de Turgueniev. O livro faz parte da bilbiografia mínima para um projecto que receberá o nome de código BW1. BW1 é o primeiro projecto secreto do Ouriquense. Não tenho medo que me roubem a ideia. Nem tenho medo da exposição ao ridículo (ou a um ridículo ainda maior, digamos). Tenho medo de perder energia vital, pois explicar um projecto é o caminho mais rápido para não o concluir. A arte conceptual resolveu este problema, mas o romancista ainda precisa de escrever o calhamaço. 

06
Dez09

Livros


Eremita

Balanço do ano e resoluções

 

Li pouco, li mal, li maus livros. Ditou a conjuntura que me debruçasse sobre a integral de Mário Zambujal. Li toda a obra deste escritor e fiquei com a impressão que tinha antes, o que é algo frustrante: a Crónica dos Bons Malandros, o seu primeiro livro, também é o melhor - e um grande livro. Li Leite Derramado, de Chico Buarque, e Hotel Memória, de João Tordo, livros que serão levados pela enxurrada do tempo. Creio que li Ela e Outras Mulheres, de Rubem Fonseca - a dúvida é quanto à data de leitura (em 2008 ou 2009?).  Li Ensaios Facetos, de Abel Barros Baptista, uma festa de inteligência. Li o Dom Casmurro, de Machado de Assis - e creio, convictamente, que Capitu não encornou.  Cometi o disparate de ler Popper (A lógica da Descoberta Científica) em francês. Li On the Origin of Species e foi a única decisão acertada do ano. Antes das 12 badaladas, terminarei a leitura de Um eremita em Paris (Calvino) e Porque é que a vida acelera à medida que envelhecemos?, de um psicólogo holandês com nome de professor de ioga. Reli O Banqueiro Anarquista e, surpreendentemente, continuo a não me lembrar do fim.

 

Passei os olhos por variadíssimas obras. Lamento não ter conseguido terminar o Moby-Dick. Também não consegui concluir o D. Quijote - aliás, até havia apagado da memória essa tentativa frustrada*.

 

Perante este quadro desolador, quase apetece regressar a Lisboa. Mas tenho esperança. 2010 será um ano de mudança, o ano da leitura metódica. Como se consegue isso? Só conheço três medidas eficazes e conto recorrer a todas - não espero milagres, bastam-me sinergias.

 

A primeira medida é o compromisso público. Conto ler tudo o que conseguir de Kosinsky e Brodsky (prosa), nomeadamente:

 

Kosinsky


Being There

Converstations with Jerzy Kosinski (continuação)

The Hermit of 69th Street (continuação)

The Painted Bird (conclusão)

 

Brodsky

 

Less than One (releitura)

On Grief and Reason (releitura)

Watermark

 

A segunda medida é um caso particular e extremado da primeira: a aposta. O calhamaço reúne as características ideias para objecto de aposta. Conto terminar o Quijote e o Moby-Dick, e começar e acabar o Guerra e Paz (estreia absoluta). Se falhar um, dois ou os três, oferecerei a Luiz Pacheco um jantar, dois ou quatro, respectivamente. A aposta é unidireccional (Pacheco não fica a dever nada caso eu consiga concluir a leitura dos três livros). O jantar terá lugar  - ou não - num dos restaurantes da vila, em Janeiro de 2011.

 

A terceira medida é a leitura organizada em torno de um projecto. Temos escalonados: Os Filhos, de Kafka, Fathers and Sons, de Turgenev, The Germ-Plasm: a Theory of Heredity, Studies in the Theory of Descent, The Evolution Theory, On Germinal Selection as a Source of Definite Variation, Essays upon Heredity and kindred Biological Problems, todos de August Weismann.

 

Considerandos metodológicos

 

Uma questão, também moral: será que a leitura assistida por voz de computador é um recurso válido? Visto que há cada vez mais obras digitalizadas, esta é uma solução de alcance crescente. Recorri a este método para ultrapassar a secção da Origin sobre pombos e creio que consegui um compromisso entre a minimização do aborrecimento e a assimilação da obra superior ao que é dado pela leitura na diagonal, pelos resumos  e por todos os métodos de leitura acelerada, que são uma charlatanice. No fundo, já respondi à questão e agora só me preocupa encontrar uma voz mais agradável do que a que tenho usado.  Sonho com uma voz híbrida de Kathleen Turner com Ana Zanatti, temperada com a famosa inflexão enfática de David Attenborough.

 

* Bem lembrada por Jorge.

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