Balanço do ano e resoluções
Li pouco, li mal, li maus livros. Ditou a conjuntura que me debruçasse sobre a integral de Mário Zambujal. Li toda a obra deste escritor e fiquei com a impressão que tinha antes, o que é algo frustrante: a Crónica dos Bons Malandros, o seu primeiro livro, também é o melhor - e um grande livro. Li Leite Derramado, de Chico Buarque, e Hotel Memória, de João Tordo, livros que serão levados pela enxurrada do tempo. Creio que li Ela e Outras Mulheres, de Rubem Fonseca - a dúvida é quanto à data de leitura (em 2008 ou 2009?). Li Ensaios Facetos, de Abel Barros Baptista, uma festa de inteligência. Li o Dom Casmurro, de Machado de Assis - e creio, convictamente, que Capitu não encornou. Cometi o disparate de ler Popper (A lógica da Descoberta Científica) em francês. Li On the Origin of Species e foi a única decisão acertada do ano. Antes das 12 badaladas, terminarei a leitura de Um eremita em Paris (Calvino) e Porque é que a vida acelera à medida que envelhecemos?, de um psicólogo holandês com nome de professor de ioga. Reli O Banqueiro Anarquista e, surpreendentemente, continuo a não me lembrar do fim.
Passei os olhos por variadíssimas obras. Lamento não ter conseguido terminar o Moby-Dick. Também não consegui concluir o D. Quijote - aliás, até havia apagado da memória essa tentativa frustrada*.
Perante este quadro desolador, quase apetece regressar a Lisboa. Mas tenho esperança. 2010 será um ano de mudança, o ano da leitura metódica. Como se consegue isso? Só conheço três medidas eficazes e conto recorrer a todas - não espero milagres, bastam-me sinergias.
A primeira medida é o compromisso público. Conto ler tudo o que conseguir de Kosinsky e Brodsky (prosa), nomeadamente:
Kosinsky
Being There
Converstations with Jerzy Kosinski (continuação)
The Hermit of 69th Street (continuação)
The Painted Bird (conclusão)
Brodsky
Less than One (releitura)
On Grief and Reason (releitura)
Watermark
A segunda medida é um caso particular e extremado da primeira: a aposta. O calhamaço reúne as características ideias para objecto de aposta. Conto terminar o Quijote e o Moby-Dick, e começar e acabar o Guerra e Paz (estreia absoluta). Se falhar um, dois ou os três, oferecerei a Luiz Pacheco um jantar, dois ou quatro, respectivamente. A aposta é unidireccional (Pacheco não fica a dever nada caso eu consiga concluir a leitura dos três livros). O jantar terá lugar - ou não - num dos restaurantes da vila, em Janeiro de 2011.
A terceira medida é a leitura organizada em torno de um projecto. Temos escalonados: Os Filhos, de Kafka, Fathers and Sons, de Turgenev, The Germ-Plasm: a Theory of Heredity, Studies in the Theory of Descent, The Evolution Theory, On Germinal Selection as a Source of Definite Variation, Essays upon Heredity and kindred Biological Problems, todos de August Weismann.
Considerandos metodológicos
Uma questão, também moral: será que a leitura assistida por voz de computador é um recurso válido? Visto que há cada vez mais obras digitalizadas, esta é uma solução de alcance crescente. Recorri a este método para ultrapassar a secção da Origin sobre pombos e creio que consegui um compromisso entre a minimização do aborrecimento e a assimilação da obra superior ao que é dado pela leitura na diagonal, pelos resumos e por todos os métodos de leitura acelerada, que são uma charlatanice. No fundo, já respondi à questão e agora só me preocupa encontrar uma voz mais agradável do que a que tenho usado. Sonho com uma voz híbrida de Kathleen Turner com Ana Zanatti, temperada com a famosa inflexão enfática de David Attenborough.
* Bem lembrada por Jorge.