Lobo dixit
Eremita
Não espanta que Lobo Antunes transforme o prefácio de um livro de Agustina num pretexto para falar sobre o seu tema predilecto: Lobo Antunes. Também não espanta que Lobo Antunes elogie agora Agustina, quando nos anos oitenta - salvo erro - o jovem Lobo a tratava por "bruxa" - seguramente mais uma alusão à personagem Quina, de A Sibila, do que a alguma peculiaridade física ou sobrenatural da escritora. Na altura, também Vergílio Ferreira era por ele designado como o "Sartre de Fontanelas", mas anos depois, do alto do firmamento dos escritores, Lobo Antunes deu-se ao luxo da magnanimidade, elogiando Vergílio Ferreira, então já convenientemente enterrado ou cremado.
O Xilre irritou-se com Lobo Antunes. Se não me falha a memória, há uns anos, também um prefácio displicente de Lobo Antunes ao A Consciência de Zeno irritou um crítico literário. Eu até sugiro que o prefácio de Lobo Antunes, pela descrição do Xilre, foi reciclado sem grande perda de tempo desta crónica, pois - como sabemos - para o escritor o que conta mesmo é escrever romances e o resto, exceptuando o Benfica e os veteranos da guerra, não deve ser levado a sério. Tudo isto é público. O culpado, como se vê, não é o escritor, mas quem persiste em convidá-lo para escrever prefácios, pois Lobo Antunes apenas seria capaz de fazer um bom trabalho se prefaciasse um dos seus próprios romances. Talvez a ideia ocorra a algum editor e Lobo Antunes a considere menos bizarra do que encantadora.