Pára-quedistas que libertaram Jerusalém em 1967 (1967 e 2016)
O Estado de Israel celebra este ano o seu 70.º aniversário. Foi com efeito na tarde de sexta-feira, 14 de Maio de 1948, 5 de Yar de 5708 do calendário hebraico, às 16h, que foi proclamado o Estado de Israel por David Ben-Gurion numa sala do Museu de Telavive. (...)
Todos os presentes estavam cientes de que uma eventual proclamação seria imediatamente seguida de uma invasão árabe. Para além de Ben-Gurion, que dirigia a reunião, e de outros membros do Governo Provisório, estavam também dois comandantes da Haganah – organização de defesa judaica –, Yigael Yadin e Israel Galili, para fazerem o ponto da situação militar. “Que hipótese temos?”, questiona Ben-Gurion. A resposta de Yadin vem célere: “No máximo 50%...” Mas Ben-Gurion sabia que, independentemente da decisão tomada, os árabes atacariam. Assim pronuncia-se a favor. Cinco dos dez participantes na reunião juntam-se a ele, quatro votam contra. O Estado Judaico será proclamado dois dias depois.
Às 23h30 desse dia histórico, o último Alto-Comissário britânico, Sir Alan Cunningham, deixava o porto de Haifa, ao fim de 30 anos de Mandato inglês na Palestina. Os ingleses partiam sem dizer adeus, hostilizados por ambos os campos. Onze minutos depois os EUA e a URSS reconhecem o Estado de Israel. Nessa mesma noite começa a invasão árabe: foi o início de uma série de guerras que nunca cessariam completamente.
Mais tarde David Ben-Gurion escreverá que até ao próprio dia da proclamação do Estado recebeu muitos pedidos de adiamento por parte de governos, personalidades e amigos que receavam que o Estado recém-criado fosse destruído. “No entanto”, afirma, “nada podia desviar-nos do caminho que escolhemos. Eles não podiam saber o que nós sabíamos, o que nós sentíamos no mais profundo de nós mesmos: esta hora era a nossa hora histórica. Se não estivéssemos à altura por receio ou falta de empenhamento, gerações, talvez mesmo séculos, suceder-se-iam antes que o nosso povo pudesse reencontrar outra oportunidade histórica – na condição de ainda estarmos vivos como grupo nacional". (...)
Tiveram razão, Ben-Gurion e o executivo sionista, em declarar o Estado de Israel?
Na época, tratava-se para os judeus de uma questão de vida ou de morte, era a sua sobrevivência como povo que estava em causa. No final da guerra a maioria dos sobreviventes judeus não podia nem queria voltar para o que agora eram apenas ruinas, perda e sofrimento. A grande maioria desejava ir para a Palestina, longe das sombras do passado europeu. No entanto, as portas continuavam fechadas pelo Livro Branco britânico de 1939 e nos anos de 1947/48 cerca de 250 mil judeus ainda vegetavam nos campos ditos de “deslocados” da Alemanha e da Áustria, em condições desumanas. Tal como os massacres e perseguições anti-semitas no leste e no centro europeu no final do século XIX levaram à criação do sionismo politico por Theodor Herzl, também foi o extermínio nazi o mais trágico argumento da necessidade de um lar onde os judeus pudessem finalmente ser donos do seu destino. E também a mais cruel das oportunidades...
Israel nasce marcado por dois números fatídicos: seis milhões de vítimas do genocídio nazi, cuja ausência nunca será colmatada, e os seis mil mortos na Guerra da Independência, ou seja, perto de 1% da população judaica na época, entre os quais numerosos sobreviventes [do Holocausto]. (...)
Apesar disso e fazendo o balanço destes 70 anos, a resposta é inequívoca. Nascido do sofrimento milenar de um povo, construído contra ventos e marés por homens e mulheres idealistas que ao mesmo tempo que reinventavam a língua hebraica e construíam universidades, secavam pântanos e plantavam desertos, o Estado de Israel cumpriu o objectivo inicial que lhe está subjacente: o de criar um lar onde os judeus fossem donos do seu próprio destino. Através de um esforço hercúleo de integração das vagas de imigrantes e refugiados, nasceu uma nação, com a sua própria língua e cultura original que já conta hoje com 12 prémios Nobel. Uma nação cujos princípios democráticos fundadores resistem a uma vida inteira passada em contínuo estado de alerta num ambiente regional hostil.
Mas há um outro motivo e esse infelizmente bem actual que vem dar razão à decisão tomada há 70 anos: a insegurança na qual vive hoje de novo uma parte significativa dos judeus europeus. (...) Adam Armoush, árabe israelita de 21 anos, foi uma testemunha involuntária deste crescendo em Berlim: duvidando da veracidade do que lhe afiançavam os seus amigos, decidiu cobrir a cabeça com uma kipá passando assim por judeu. O resultado foi convincente: no passado dia 19 de Abril Armoush foi violentamente agredido na rua aos gritos de Yahudi, palavra árabe que significa judeu...
A história judaica do século XX mostra-nos com toda a clareza que a liberdade e a dignidade de um povo só são reais num quadro de soberania politica. Essa foi e continua a ser a grande lição destas sete décadas do Estado de Israel.
Mas se isto é verdade para os judeus, também o é para os palestinianos. Hoje, os dois povos estão face a face e a sua existência pacífica apenas é possível no quadro de dois Estados independentes, soberanos e em pé de igualdade. Mas, para isso, os palestinianos têm de abandonar definitivamente o sonho insensato e irrealista de destruir Israel e os judeus de não esquecer que a vocação sionista inicial não era a redenção messiânica da terra, mas sim construir um lar onde os judeus pudessem finalmente ser donos do seu destino. Esther Mucznik, Público