A imaginação catastrofista
Eremita
Hoje vesti uma das bebés com um body que tem o "S" do Superman estampado no peito. Não sou grande adepto da roupinha cómica, porque um bebé de fralda - haja pudor - já está plenamente equipado para nos enternecer e fazer sorrir. Se é verdade que me satisfaz mais vesti-las como meninos e roupa descontraída do que abonecá-las, no fundo, por mim, vestia as bebés como se fossem duas velhinhas calvinistas e o assunto ficaria arrumado. Mas quem escolhe a roupa é a mãe e muita da roupa que temos foi oferecida, pelo que as bebés são em grande parte vestidas segundo o gosto de outros. Tem sido assim desde que nasceram e não me incomoda por aí além. O "S" só é um problema porque há uns tempos um miúdo atirou-se de uma varanda de um prédio vestido de Superman.
Houve também um pai que se esqueceu do bebé dentro do carro num dia de calor e esta foi uma das notícias mais inesquecíveis de sempre. Enfim, pode nem sequer vir no jornal. Há um pequeníssimo conto de David Foster Wallace, Incarnations of Burned Children, que também se anicha na memória como um vírus crónico. E pode até não ter sido ainda escrito, nem filmado.
Continua