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Eremita
(pub) A brief history of romance comics
- Você é de uma arrogância insuportável.
- Isso é um anacronismo.
- Um quê?
- Anacronismo. Vem fora de tempo. Eu fui arrogante.
- Ninguém aprende a modéstia.
- Pois não. Mas sentimos a vergonha.
- Ora conte lá...
- Não conto coisa nenhuma.
- Conte, eu dou-lhe mimo.
- Foi há muitos anos.
- Num país longínquo.
- Como é que sabia?
- Estava a brincar.
- Ah. Foi há muitos anos, estava nos EUA.
- E foi preterido.
- Fui, mas isso já me tinha acontecido.
- Então?
- Fui preterido e um amigo lembrou-me que talvez eu não ganhasse o suficiente.
- Não o sabia tão materialista.
- Não sou. Não era. Enfim, aquilo foi o meu wake up call...
- O seu quê?
- O wake up call. É uma expressão. Viu o Wall Street?
- Não.
- Uma epifania. Sabe o que é?
- Isso é religioso?
- Um "fez-se luz", está a ver?
- Mas você não ganhava até em dólares?
- Oiça, percebi pela primeira vez que a essência perde para a circunstância.
- Mas a essência não forja a circunstância?
- Apercebe-se que fez uma boa pergunta?
- Deve ter sido por acidente.
- Forja. Mas só em certa medida. E há depois uma retroacção da circunstância sobre a essência.
- Como a vergonha a fazer de si um homem menos arrogante?
- Hoje você merece um chocolate.
- Vê? Não tem razão, a essência resistiu.
- Acha?
- Venha cá. Eu sou herdeira e gosto é das suas mãos.