Tim Robbins
Eremita
But believe me, my dear boy, there is nothing stronger than those two: patience and time, they will do it all.
Kutuzov Livro 10, capítulo 6
Cruzei-me hoje com o Gaspar, que vinha com um poster enrolado em canudo debaixo do braço. Perguntei-lhe se era para decorar o cineclube e ele confirmou com a cabeça. Perguntei-lhe depois de que filme era e ele fez um ar de enfado, hesitou, mas lá se decidiu a desenrolar o poster. Era do The Shawshank Redemption.
- Deves desprezar este filme, a história é do Stephen King...
- De tod..
- Mas só o comprei pelo olhar do Tim Robbins.
- O olhar do Tim Robbins?
- Apesar do handicap que é a sua cara de bebé, neste filme ele consegue a melhor máscara da esperança que conheço.
- Sem semicerrar os olhos?
- Sem semicerrar os olhos. É uma espécie de fitar o horizonte introspectivo.
Não tenho nenhum desprezo por The Shawshank Redemption. Creio até que é um dos meus feel good movies preferidos. Menos primário que os Rocky e menos lamechas que o Dead Poets Society, sem deixar de ser um filme para rapazes, é sobretudo um hino à paciência e à força da vontade. Revi o filme com Gaspar, ontem. A suprema prova de resistência surge quando o herói, depois de passar um mês na solitária, é ameaçado e obrigado a passar um segundo mês isolado de todos. Nem um eremita a sério resistiria a isto:
Depois do filme, voltei à audição do Guerra e Paz. Ia a mais de metade do livro 10 quando percebi que até agora este é o mais importante de todos os livros, pela descrição do conceito de História de Tolstoy (um eloquente "shit happens"), pela morte do velho Bolkonsky e por ganhar protagonismo o povo, depois de nove livros sobre aristocratas, os Bezukhovs, os Bolkonskys, os Kuragins, os Drubetskoys e os Rostovs. Ainda sob efeito do Shawshank, voltei ao princípio do livro 10 e estou a ouvir tudo outra vez.