Um critério
Eremita
Em que momento nos tornamos crescidos? Mas ainda se faz tal pergunta? Provavelmente quando nos tornamos tristes? Ah, as lobo-antunices. Lobo Antunes é para ler e, sobretudo, para escutar em entrevista, mas não serve para reflectir, tem um discurso e uma prosa de poseur, muito reféns do bonito. Conhecemos a tristeza quando ganhamos uma consciência, o que, em regra, tende a acontecer muito cedo, apesar do major Valentim Loureiro. Como não é por se ganhar uma consciência que se perde a infância, não nos podemos tornar crescidos com a tristeza; o critério poderia passar a ser de grau, mas seria ridículo estabelecer um limiar de dias ou horas de tristeza por semana para definir a maioridade.
Tornamo-nos crescidos quando ficamos responsáveis por alguém. Isto lembra o Principezinho, mas aguentem mais um pouco. Em regra, a responsabilidade por alguém sucede quando se tem ou adopta um filho, mas também nos casos mais raros em que um filho passa a cuidar dos pais ou de outros familiares. E ainda nos casos em que das nossas acções dependem outros, que não precisam ser da nossa família, podem ser empregados ou alunos. Prefiro deixar de fora as responsabilidades passionais; pelo incumprimento frequente, tendem mais a fazer crianças de adultos do que adultos de crianças.