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OURIQ

Um diário trasladado

OURIQ

Um diário trasladado

27
Jan11

Livro de todos os desportos


Eremita

 

 

 

 

Ases, para que vos quero? (ténis)

 

O jogador que acabou com o ténis.

 

"O benjamim dos Rasmussen" (tobogan)

 

Jaren Rasmussen, irmão mais novo de Knud, Argus e Magnus, tem medo das descidas.

 

"Uma namorada para Kim Myong-Guk" (halterofilismo)

 

Kim Myong-Guk é o campeão norte-coreano de halterofilismo e o detentor de vários records mundiais. Órfão, sem amigos e mais ninguém ou algo que o prenda ao país, as autoridades temem que Kim aproveite os Jogos Olímpicos para não regressar. É então que decidem dar-lhe uma namorada.

 

"A revolta dos fiscais de linha" (futebol)

 

Uma espécie de Saltillo, mas com metafísica.

 

"A décima primeira maratona de Samuel Makau"(atletismo)

 

Não faço ideia do que pretendi ao escrever este título, mas estou a tentar lembrar-me.

 

"O nosso antídoto é o teu veneno" (futebol)

 

Quando o único mérito é secar o melhor jogador de todos os tempos, não há felicidade.

 

Continua (previsto para 2014). Esta série é influenciada por 15 Histórias de Futebol, um dos livros que mais me marcaram na infância.

 

26
Jan11

Ases, para que vos quero?


Eremita

 

 

Sentanyhu foi hoje enterrado segundo o ritual cristão, ainda popular nesta zona da cidade. Não vi caras conhecidas e caía uma chuva miudinha que convidava a apressar a cerimónia. Ao todo estariam umas 15 pessoas, uma metade de pretos, outra metade de brancos e mestiços. No meio de tanta gente humilde, senti-me mal dentro da minha gabardina de marca, mas deixei-me ficar por ali algum tempo, recordando-o. Entrevistei-o há 40 anos, no começo da minha carreira. Ele era então um ídolo planetário. Ficámos amigos e anos depois o nègre fui eu e fiz-lhe a autobiografia. Levei-a no bolso até ao cemitério. Não está muito bem escrita e nem sequer foi por perfeccionismo meu, mas gosto de olhar para a capa em que Sentanyhu substitui Adão no conhecido fresco de Miguel Ângelo. É a mesma pose e o mesmo toque divino do Deus barbudo, só que o corpo de Sentanyhu- como dizer isto?- supera o corpo original, de Adão. Sentanyhu foi um gigante de proporções perfeitas e não há registo de corpo mais poderoso na história da humanidade. É factual, trata-se de uma fotografia montada sobre a pintura. O braço esquerdo dele, com uma proporção de formas, um equilíbrio de músculos e uma discreta sugestão de veias subindo pelo antebraço, reduz Deus a uma figura de velho decrépito. É Sentanyhu quem toca em Deus e não o contrário. Olhando a sua campa, pareceu-me que o Senhor resolveu corrigir a afronta.

 

 

25
Jan11

To Jerusalem and back


Eremita

 

 

O Ouriquense continua a fazer o seu caminho no sentido da perfeição aparente. Um pouco como na ascensão da psicanálise a instrumento de dissecar biografias, se me é permitido. Ou como a génese de todas as restantes metafísicas, bem vistas as coisas. Para tudo começa a haver aqui uma explicação absolutamente consistente, mas também impossível de invalidar e tendencialmente barroca. É a laborar neste paradoxo de querer lógica interna naquilo que não precisa de qualquer lógica - como se a loucura precisasse de verosimilhança - que vai crescendo o capricho do artista.


Com o eremita na praia, os Quo vadis podem existir, porque não são escritos pela personagem e sim pelo narrador. Ganha também voz o judeu, com o seu hebraico primário. Como escreve o judeu? Com um tradutor automático, obviamente, pois o homem nem acerta na data do Hanukkanh. Mas são os textos mais trabalhados que surgem no Ouriquense, pelo menos se usarmos como critério o número de versões. O judeu começa por parir um texto em inglês. O texto é traduzido para hebraico e depois traduzido de volta ao inglês. A informação que se perde neste processo informa  o judeu das alterações que deve introduzir no texto original, que é de novo submetido a uma ida e volta, o seu To Jerusalem and Back. Até voltar imaculado no sentido original, o processo é repetido. São 5, 6, 7 versões. Provavelmente haverá menos versões no futuro, se neste processo a prosa do Judeu se aproximar de uma gramática universal. Não sei que este método preserva o sentido em português ou noutra língua que não o par posto a interactuar. Em todo o caso, mais do que ter dado a chave de leitura para algo que não era propriamente críptico, forneci uma explicação.

25
Jan11

האיש נסע לחוף אתמול ואני מתגעגעת אליו כבר. אני מתגעגע האונים שלו ואת האומץ שלו. אני מרחם ואני מעריץ אותו. הוא מנסה לעשות משהו עם החיים שלו. אני מנסה את זה גם, אבל רק עם המחשבות שלי. אני מתגעגע איך הוא משתמש הבדיוני שלו כדי לפצות על חוסר היכולת של מחשבה בהירה.

24
Jan11

Instintos primários


Eremita

 

 

 

 

 

 

 

 

Tentarei viver os próximos dias daquilo que a natureza me oferecer. Vou para as falésias arenosas da zona da praia da Galé, equipado apenas com uma tenda iglu, um canivete suíço, apetrechos de pesca, uma flober e algumas mudas de roupa. Não levo dinheiro, mas tenho comigo o cartão do cidadão. Qualquer post* publicado antes de 24 de Fevereiro deve ser interpretado como uma derrota pessoal que quero assumir desde já diante de todos os portugueses - será só a minha derrota, volto a frisar, não a daqueles que me apoiam  (o judeu vai levar-me de carro).

 

O modelo para esta aventura é o Rambo de First Blood e não Christopher McCandless, o homem que morreu de fome quando seguia o apelo da natureza. Como estão lembrados, Rambo superou-se por causa dos seus instintos primários e McCandless degradou-se por causa das suas ideias grandiloquentes.

 

* O que não inclui as séries, Obviamente. Enfim, parece-me óbvio. Vou programá-las para que saiam com regularidade.

22
Jan11

Rodrigo vive!


Eremita

Divagações sobre o conceito de ressuscitamento psicológico.

 

Notas (actualizadas)

 

Tomar por idiossincrática uma característica universal é um erro demasiado frequente para que ainda cause embaraço, mas não o seu contrário. É por isso com algum receio que afirmo ser muito frequente estarmos convencidos da morte de uma pessoa que, afinal, continua viva. Comigo isso sucedeu com três pessoas. A primeira experiência envolveu Holly Johnson, nome a que retrospectivamente reconheço alguma presciência. Trata-se, como é do conhecimento geral, do vocalista da antiga banda pop britânica Frankie Goes to Hollywood. Dos finais de oitenta ao princípio do século, julguei-o morto, até que ele ressuscitou na minha cabeça, mais velho, não excessivamente mais gordo e como se pegasse num verso interrompido há quase  duas décadas de The Power of Love. Um outro ressuscitamento psicológico aconteceu com o fadista Rodrigo, que julgava morto em parte por ele ser tão popular na RTP Memória, mas alguns anos depois vi-o anunciado como figura de cartaz de um espectáculo que não me pareceu ser de espiritismo.  Por fim, tinha dado Eduardo Cintra Torres por morto há uns meses, não encontrando qualquer explicação para este disparate, mas acabo de ler uma crónica em que o crítico dá algumas indicações de ainda estar vivo.

 

Escrevo este texto, essencialmente, por gostar muito do seu título. Rodrigo Vive! tem uma sonoridade especial, que Holly, shit! (uma conseguida tradução para a versão em inglês deste trabalho) não reproduz. Não há aqui engraçadismo, pois as nossas motivações podem ser mesmo muito prosaicas. Por exemplo, certo dia - true story - uma mosca pairava sobre a cabeça de um amigo meu, durante uma aula, e ele começou a mexer o braço para a afugentar, chamando a atenção da professora, que julgou estar perante um aluno com uma dúvida; o meu amigo, depois de um breve instante em que terá medido eventuais esforços e consequências, achou que seria mais simples improvisar uma pergunta do que explicar a realidade. E se assim se prova que a curiosidade académica nem sempre é o que parece, quem poderá negar o capricho de escrever um texto só para justificar um título? Enfim, o motivo adicional é tentar perceber a razão destas falhas a partir das características que unem Hollly Johnson, Rodrigo e Eduardo Cintra Torres. Pensei até em usar o subtítulo "uma anatomia do ressuscitamento psicológico", até desistir de ser mais um a contribuir para a perversão de "anatomia".

 

Continua

21
Jan11

2 down, 38 to go


Eremita

A conclusão do segundo capítulo de BW (que será um dos finais) libertou-me para começar a pensar nos capítulos intermédios. É a tarefa mais complicada. Como It was a dark and stormy night corre no nosso sangue, começar é sempre trivial, no conto e no romance.  A dificuldade está na conclusão. Mas se no conto o grande desafio é o fim, no romance (pela minha experiência de leitor) é a parte central que mais problemas levanta. Ainda assim, creio que tive duas ideias promissoras. Uma é sobre a relação de Hans com o seu biografado. A outra é sobre um plano para vencer a crise, posto em prática em 2020, que se articula bem com o tema central. O plano em si é  absurdo e demasiado actual, o que é sempre um risco, mas a ideia de tratar essencialmente o mesmo problema a dois níveis distintos - o individual e o colectivo (ou estatal) - parece-me organizadora.

21
Jan11

Limites da interpretação


Eremita

O melhor parâmetro para se medir o prestígio de alguém não é o impacto daquilo que fez bem, mas o esforço que dedicamos a tentar tomar por válido o que fez mal. Costumava ilustrar esta regra com a reacção a um erro de gramática num texto de Vergílio Ferreira seleccionado para uma prova de português, mas como já não me recordo do erro (o caso deve estar documentado em alguma hemeroteca), convém renovar o exemplo. Os primeiros 5 capítulos do segundo livro de Guerra e Paz cumprem bem essa função. Porquê? Porque, sendo imensamente aborrecidos, se fica logo a pensar que foi de propósito. E qual teria sido o propósito? Deixar o leitor com imensa vontade que a guerra comece. Pelo menos foi assim que recebi o remate do capítulo 5:

 

"We're going into action, gentlemen!"

"Well, thank God! We've been sitting here too long!"

 

É porém impossível saber se foi esta a real intenção de Tolstói.

 

Pág. 1/5

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