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OURIQ

Um diário trasladado

OURIQ

Um diário trasladado

28
Fev09

Noção do ridículo


Eremita

Ler Herberto Helder e citar Silvio Rodriguez.

 

No hay nada aquí
solo unos días
que se aprestan a pasar
solo una tarde
en que se puede respirar
un diminuto instante
inmenso en el vivir
después mirar la realidad
y nada más, y nada más.

26
Fev09

O espírito e a carne


Eremita

No prefácio que nos anos sessenta escreveu para o seu Alexis de 1929, Yourcenar esclarece que o homossexual abandona a mulher pelo "seu firme propósito de conciliar sem baixeza o espírito e a carne". Com as devidas distâncias, foi também por isso que me instalei em Ourique e é por isso que aspiro cobardemente à velhice, que é uma existência sem carne, só espírito. 

 

25
Fev09

Ao sétimo mês


Eremita

Em si, o sorriso de uma mulher é pouco informativo. O que conta é a forma como a mulher remata o sorriso. Tatiana sorriu hoje para mim e depois e creio ter visto nela sinais de privação sexual. Fiel às minhas origens, dirigi-me de imediato à lavandaria, que tem uma empregada muito simpática, e confirmei que não é qualquer sorriso que vem com aquela mensagem. É provável que amanhã recomece a fazer flexões e que apare os pêlos da região púbica. Agora que penso nisso, em casa só tenho uma tesoura de amanhar peixe...

24
Fev09

A cornadura do círculo


Eremita

Estou em condições de afirmar a autoria desta magnífica expressão e serve este post para lhe fixar a data. Conto usá-la como título do texto definitivo sobre a infidelidade. Ainda esta semana.

 

Isto é o Ouriquense em hipomania, que pode ser paixão por cavalos mas também pode ser essa outra coisa que de facto por vezes é.

23
Fev09

Mon amour


Eremita

 

Materias e métodos: Wordle 

 

Análise de todas as palavras escritas no Ouriquense, desde Julho de 2008. O meu sonho é publicar livros e que todas as capas sejam as word clouds respectivas, o Irmão Lúcia que me perdoe.

 

Nem vos digo o tempo que demorei a encontrar o Igor. 

 

Já cá venho outra vez, pois esta cloud é uma teta farta.

23
Fev09

Do convento dos Capuchos para o mundo lusófono, via Ourique*


Eremita

Jaime, o único surfista de Ourique vivo, aceitou passar a semana na Costa da Caparica, com dormida assegurada (telefonei a um amigo) e diária paga (35 euros). A sua única obrigação é subir todas as noites ao Convento dos Capuchos, telefonar-me e deixar o telefone ligado durante todo o concerto. Há alguma tirania na frase "desliguem os vossos telemóveis". 

 

De momento preparo o material que recebi ontem; o Ouriquense estará até sexta por conta deste evento e considero tentar um texto de antologia. É que o guitarrista, agora que penso nisso, é o único músico que molda o corpo ao instrumento. Seríamos capazes de reconhecer um guitarrista numa pilha de corpos. Pois bem, quero fazer por eles aquilo que Patrick Süskin quase conseguiu com um pobre contrabaixista, mas segundo uma perspectiva de classe, evitando o registo solipsista do Patrick. Esta euforia explica-se por ter escutado ontem a sublime Tango Suite. Oiçam o terceiro andamento. Tem provavelmente a linha melódica mais lírica alguma vez escrita para guitarra. Os mais ocupados podem começar no minuto 4' 25''. A melodia é tão bela que pede um da capo, mas depois nunca volta e fica-se muito carente, como quando vemos uma mulher sublime no metropolitano que não volta a aparecer. Ao menos aqui dá para fazer replay.

 

 

 

 

 

 

* tmn

 

 

 

 

 

 

 

22
Fev09

Tentações


Eremita

 

Deus quer que eu regresse a Lisboa, esse sítio - enfim - nojento. Esperto como é (foi feito à imagem de Jorge  Braga de Macedo), colocou o isco não no Rossio mas em Almada, para me deixar à distância do abraço mortal da capital.  São os concertos de guitarra clássica que terão lugar esta semana no Convento dos Capuchos. Resistirei, nem que para isso passe todas as noites num bordel fronteiriço, mas isto pode custar-me uma pequena fortuna. 

20
Fev09

As implicações deste episódio são tremendas


Eremita

Até hoje, só uma outra pessoa no mundo lusófono info-incluído se havia lembrado desta expressão, que me parece tão apropriada a tantas pessoas: "iminente eminência". A variante "eminente iminência", ainda apropriada a algumas circunstâncias, foi também utilizada pela mesma pessoa. O texto é este e o seu autor o grande Veríssimo. Esta descoberta encheu-me de orgulho, porque eu fui a segunda pessoa no mundo lusófono a ter a mesma ideia e perder para Veríssimo é sempre uma vitória pessoal. Mas mergulhemos um pouco mais.

 

Na verdade, depois de um esforço de memória, chego à conclusão que já tinha lido a crónica de Veríssimo, só que ao inventar "iminente eminência" me esqueci praticamente da fonte original. O advérbio conta. Devia haver um ténue fio a ligar a minha invenção à crónica de Veríssimo, caso contrário não teria usado o Google para sondar o espaço lusófono, mas disso só me apercebi a posteriori. Este incidente faz com que o  Google, na qualidade de  auxiliar de memória, ascenda a um patamar superior. No decorrer de uma pesquisa,  o Google regorgita uma informação recalcada. A pesquisa transformou-se em auto-análise. Nunca o Google havia antes funcionado como uma  verdadeira extensão do meu cérebro, nem mesmo quando com ele partilho o que de mais inconfessável se passeia por este meu órgão. Apetece-me começar a tratar o Google por Hal.

 

As implicações deste episódio são tremendas. Cada um dispõe hoje de um método rápido para sondar a originalidade de qualquer expressão que julgue ter inventado. Isto não constitui uma obrigação moral, porque não se trata aqui de fazer uma purga que nos livre de eventuais acusações de plágio, o que seria ligeiramente paranóico. Trata-se apenas de atomizar um texto e procurar as referências internas que o produziram... Uma bibliografia do cérebro.  Com alguma sabedoria, seria possível montar uma empresa que fornecesse ao cliente esta espécie de árvore genealógica do pensamento num suporte informático com design impecável e janelinhas dentro de janelinhas, como matrioskas. O problema é que os intelectuais são uns pelintras e não há mercado para isto, mas seria mais estimulante enriquecer assim do que vencer Américo Amorim e o seu império da rolha no terreno deste. E quem o afirma  tem o sobreiro como a mais nobre das árvores, faço notar.

 

 

 

 

19
Fev09

...


Eremita

fb_IzBVUIdBAruzG1CE3sZb

Defendo a entrada dos casais homossexuais no casamento civil, mas em privado sonho sobretudo com a expulsão da Igreja do matrimónio. O casamento civil é uma instituição falida para um heterossexual.  Apenas  o matrimónio tem hoje a nobreza e a beleza de uma declaração de amor pública e vinculativa. É trágico que a Igreja possua esta patente, porque apenas lhe interessa o exercício do poder, pela opressão que exerce sobre os excluídos, e a sua perpetuação, pelo demográfico "crescei e multiplicai-vos". A Igreja, por vocação institucional  e deformação profissional dos seus dignitários, nada sabe sobre o amor e não está à altura do ideal de matrimónio. 

 

18
Fev09

Da subtil transmutação das expressões com o correr dos anos


Eremita

O que é um homem de convicções? Se antes pensava que era uma pessoa plenamente convencida da força dos seus argumentos, hoje sei que é sobretudo alguém que pôs em curso o seu programa pessoal de realpolitik e que, por isso, não hesita em sonegar os argumentos que enfraquecem o seu ponto de vista. Há algo de profundamente contraditório nestas duas definições. O objecto que definem não muda, mas a primeira é mais verdadeira para o observador jovem e a segunda serve melhor ao observador entretanto envelhecido. Se calhar é também a esta metamorfose que Herberto Helder e o seu peixinho se referem, no texto de abertura de Os Passos em Volta.

 

 

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